Ah, Patapon! Quantas horas da minha vida foram dedicadas a essa trilogia no meu velho PSP. Lembro vividamente das noites em claro, com os fones de ouvido e tomando refrigerante, imerso naquele mundo de ritmo e estratégia. Era uma obsessão saudável, um ritual que me acompanhou por anos. A ideia de ter Patapon 1+2 Replay no PC, com a promessa de uma experiência renovada, despertou em mim uma mistura intensa de nostalgia e expectativa. E posso afirmar com segurança: a espera valeu.
Para quem nunca teve o prazer de marchar ao ritmo dos Patapons, prepare-se para uma jornada única. Patapon 1+2 Replay é uma experiência sensorial que combina a precisão de um jogo rítmico com a profundidade estratégica de um RTS. No papel de uma divindade invisível — o Poderoso Patapon — minha missão é guiar uma tribo de criaturas adoráveis, com um só olho e enormes, em busca do mítico “Fim da Terra”, onde contemplarão o enigmático “ISSO”. A premissa parece simples, mas rapidamente se transforma em uma odisseia épica, cheia de desafios, viradas e momentos memoráveis. A cada batida de tambor, sinto que conduzo não apenas um exército, mas uma fé em movimento.
Uma Jornada de Fé e Descoberta
A história de Patapon é, para mim, uma fábula sobre esperança e propósito. Em Patapon 1, encontro uma tribo quase extinta após o sumiço de seu deus. Minha chegada reacende a lenda do “Fim da Terra” e do misterioso “ISSO”, embora com o aviso de que seus olhos poderiam ser queimados ao vê-lo. Enfrentamos criaturas colossais e os Zigotons, inimigos que cederam à escuridão em busca de poder. Entre eles, a rainha Kharma se torna peça central em nossa jornada.
Patapon 2 retoma a história exatamente onde o primeiro parou. Após construirmos um navio, somos atacados por um monstro marinho e naufragamos numa nova terra. Lá, os Karmen surgem como nova ameaça, ao lado do misterioso Herói Patapon mascarado que perdeu a memória. A profecia afirma que ele salvará o mundo ao reencontrar o Poderoso — ou seja, eu. A trama ganha mais densidade com o reaparecimento do Dark One, a reencarnação de um antigo Zigoton, e a aliança surpreendente com Gong the Hawkeye e seus antigos inimigos.
O que me prende é a evolução narrativa. O que começa como uma busca quase inocente vira um conflito mitológico. A revelação de que o Herói é o “Wakapon” que quebrou o Ovo do Mundo e que os Karmen são inimigos ancestrais dos Patapons adiciona camadas inesperadas. O final de Patapon 2, com o “ISSO” sendo algo completamente diferente do que imaginávamos, culmina numa nova missão para o Herói. A última imagem — tribos inimigas reconstruindo uma ponte juntas — resume tudo: redenção, destino e uma nova esperança para o futuro.
Pata-Pata-Pata-Pon: O Ritmo da Batalha
A jogabilidade é o coração de Patapon 1+2 Replay. Assumo o papel de maestro e general, comandando meu exército com sequências de tambores — cada uma associada a um botão. A interface pulsa com a batida, exigindo precisão absoluta.
Os comandos são intuitivos, mas exigem treino. Pata-Pata-Pata-Pon (Quadrado, Quadrado, Quadrado, Círculo) move minhas tropas. Pon-Pon-Pata-Pon (Círculo, Círculo, Quadrado, Círculo) inicia o ataque. Chaka-Chaka-Pata-Pon (Triângulo, Triângulo, Quadrado, Círculo) ergue escudos defensivos.
O modo Fever é onde tudo ganha intensidade. Os Patapons cantam com fervor, e seus bônus de ataque e defesa aumentam. Para ativá-lo, preciso manter um combo perfeito ou iniciar uma sequência precisa logo de início. É aqui que a conexão entre ritmo e estratégia brilha. Errar uma batida, no entanto, é uma punição severa — o Fever se quebra e a moral despenca.
As Engrenagens da Guerra: Mecânicas e Progressão
Atrás da estética fofa, Patapon esconde uma estrutura complexa de RPG e estratégia. Em Patapolis, minha base, revivo tropas, escolho missões, e participo de minijogos para coletar recursos. Antes de cada missão, escolho três tipos de unidades que irão marchar com o Hatapon, o portador da bandeira.
A variedade de classes é sólida: Yaripons (lanças), Tatepons (escudos), Yumipons (arcos). Já Patapon 2 eleva isso com Dekapons, Toripons, Mahopons e mais. Cada classe tem funções específicas, e montar a formação certa é essencial para vencer.
Mas o grande diferencial de Patapon 2 é o Herói Patapon. Ele é versátil, pode assumir qualquer classe desbloqueada e possui ataques especiais ativados com quatro batidas perfeitas. As máscaras que posso equipar alteram totalmente seu desempenho — resistência elemental, força bruta, velocidade. Ele é meu trunfo, mas também meu risco: pode ser revivido, mas cada morte o afasta por mais tempo do campo de batalha.
A progressão é viciante. Refazer fases para melhorar o exército se torna parte da rotina — e mesmo nos momentos de grind, o prazer de ouvir os tambores e aprimorar minhas unidades me mantém motivado. Chegar num chefe antes imbatível com um exército turbinado é uma recompensa em si.
A Sinfonia Visual e Sonora: A Alma de Patapon
A arte de Patapon é inconfundível. Criada por Rolito, a estética dos personagens de olhos únicos e formas simples transborda personalidade. No Replay, o visual parece que foi redesenhado com nitidez e cores vibrantes. O estilo se adapta perfeitamente às resoluções modernas.
O áudio, porém, é o verdadeiro coração pulsante. O trabalho de Kemmei Adachi é magistral. Os sons de tambor — pata, pon, don, chaka — são poderosos e satisfatórios. A música se intensifica no Fever, e tudo gira em torno do BPM fixo de 120. A voz dos Patapons, interpretada pelo filho do criador, é adorável e marcante. A interação entre som e ação é o que mantém tudo unido.
Desempenho no PC: O Ritmo Corre Solto
No meu setup — Ryzen 5 3600, RTX 4060 e 32 GB de RAM — o jogo roda cravado em 60 FPS, não há opção de fps mais altos. Sem travamentos, sem bugs, sem atrasos. O Replay não é uma emulação preguiçosa — foi retrabalhado de forma competente para plataformas modernas.
A sincronização com controle está impecável, e o ajuste de tempo de entrada é o toque final. Jogar com algum controle da Playstation é natural. O jogo foi feito para controle — e é assim que deve ser jogado.
A batida continua, mas falta uma nota
Patapon 1+2 Replay é um retorno triunfal. Uma recriação visualmente limpa, musicalmente precisa e mecanicamente afiada. Para mim, é a experiência definitiva dos dois primeiros jogos.
Mas existe um espaço vazio aqui — e ele tem nome: Patapon 3. Meu favorito da trilogia, o mais ousado e estratégico, ficou de fora. A ausência dele neste relançamento é mais que uma oportunidade perdida. É um corte emocional. Foi o jogo que mais expandiu a fórmula, que ousou mudar a estética, e trouxe um combate ainda mais envolvente. Tê-lo ignorado num momento em que a série está renascendo é triste, mas com o lançamento de Patapon 1+2 Replay, minhas expectivas para o Patapon 3 aumentam bastante.
Mesmo assim, o legado continua. Patapon 1+2 Replay mostra o que acontece quando ritmo, arte e design se encontram em harmonia. Para os veteranos, é um retorno ao lar. Para os novatos, é uma porta de entrada para algo especial.
E enquanto sigo marchando, repito meu mantra interno: que um dia a batida me leve até Patapon 3 Replay.
Porque eu não paro.
Eu avanço.
Eu escuto.
E continuo no ritmo.
NOTA
CONSIDERAÇÕES
Patapon 1+2 Replay resgata com brilho o melhor da trilogia, mantendo seu ritmo cativante e charme único. É uma experiência completa, que reacende a batida no coração de quem sempre marchou com essa tribo.