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Review | Hell Clock (PC)

Comecei esse jogo com sede de novidade. Vi que era brasileiro, com uma proposta de roguelike, temática do sertão nordestino e ainda por cima com um toque de misticismo. Logo me perguntei: “Será que finalmente teremos algo à altura de Hades, mas com alma brasileira?”. A resposta não é simples. Após 6 horas de gameplay, enfrentei frustrações, descobertas e momentos de empolgação. A experiência foi uma verdadeira montanha-russa. Esta análise será direta, sincera e com uma dose de coração.

Importante dizer: esta análise se baseia exclusivamente no Ato 1. E só isso já revela bastante. Inclusive, já adianto: talvez muitos jogadores nem cheguem a ver o Ato 2. Não por desinteresse, mas porque o jogo impõe um ritmo arrastado de progressão e isso pode ser desanimador, especialmente quando a sensação de repetição se intensifica.

Um sertão místico e misterioso

A narrativa começa envolvente, lançando o jogador num universo entre o concreto e o espiritual. Isso me fisgou logo de cara. Interpretando o personagem Pajéu, mergulhei em um cenário que respira brasilidade. A guerra de Canudos aparece como pano de fundo para algo mais simbólico e introspectivo. No entanto, mesmo após horas jogando, não ficou claro qual é exatamente o propósito de Pajéu naquela realidade. Falta um fio condutor mais sólido, algo que amarre melhor os elementos narrativos.

Hell Clock

Curiosamente, os cinco primeiros andares trazem objetivos claros: consertar uma escada, resgatar alguém, reunir recursos. Isso dá um senso de direção. Mas essa estrutura logo se perde. O enredo fica vago, os objetivos desaparecem, e o ciclo repetitivo se instala. A história deixa de evoluir, e o que sobra é o grind contínuo.

Diversão entre tiros e poderes místicos 

A jogabilidade é onde o jogo inicialmente brilha. O combate é ágil, direto, e oferece variedade através das habilidades. Dá pra experimentar diferentes estilos: desde o atirador de longa distância, sinos explosivos e pistola que vira uma metralhadora. Testar essas combinações foi empolgante. Cada run parecia oferecer algo novo até certo ponto.

Com o tempo, percebi que os andares eram idênticos. Os baús sempre nos mesmos locais, inimigos com padrões repetidos. E o pior: o sistema de tempo. A mecânica de contagem regressiva, que deveria gerar tensão estratégica, vira uma barreira. Várias vezes perdi uma tentativa simplesmente porque o tempo se esgotou, não por falha minha, mas pela rigidez do sistema. Isso gera frustração.

Hell Clock

Testei o modo com tempo pausado após seis horas e a mudança foi nítida. Consegui explorar melhor, entender as salas, ajustar minha estratégia. A ironia é que esse modo, sem o tempo pressionando, foi o único realmente divertido, o que contraria a proposta central do jogo. O relógio, que deveria ser desafio, acaba sendo um obstáculo à diversão.

Mais grave ainda é que, com o tempo ativado, o avanço se torna ainda mais lento e repetitivo. O jogo não possui mapas gerados aleatoriamente. Cada sala é igual à anterior. Não há surpresa, não há variação. Isso anula a essência do roguelike, que depende da imprevisibilidade para manter o frescor. E como a progressão exige muito grind, o jogador se vê preso nesse ciclo por horas antes de acessar novos conteúdos.

Quando o tempo vira inimigo 

A mecânica principal, o tempo, é o ponto mais problemático do jogo. A ideia de te colocar contra o relógio é promissora, mas sua execução prejudica o ritmo. Mesmo ao alcançar andares mais altos, como o décimo quinto, a sensação é de que tudo se mantém estático. A ausência de mapas dinâmicos elimina qualquer surpresa. E quando o jogador sente que está sempre revivendo a mesma sequência, o cansaço bate forte.

A progressão também peca pelo ritmo. A árvore de habilidades, chamada Grande Sino, é interessante: você investe pontos e escolhe caminhos que fortalecem suas builds. O relicário, onde você organiza as relíquias adquiridas, também adiciona uma camada estratégica legal. Mas tudo isso só começa a fazer diferença depois de muitas partidas. O retorno vem devagar demais.

Hell Clock

Parece que o jogo foi feito apenas para pessoas muito experientes em ARPG, o que torna inacessível para quem quer aprender a jogar esse gênero. Se eu, que tenho experiência, achei exaustivo depois de um tempo, imagino quem está começando agora.

Um detalhe que me chamou atenção de forma negativa, foi um inimigo específico, extremamente parecido com a Hydra de Hades. Ele surge do chão, lança projéteis, se movimenta de maneira ágil e tem um padrão de ataque quase idêntico. Não é apenas uma inspiração: parece uma cópia direta. Para um jogo que tenta criar sua própria identidade, esse tipo de “homenagem” soa preguiçoso e quebra a imersão.

Outro incômodo: os inimigos conseguem dar dano fora do seu campo de visão, enquanto você não consegue fazer o mesmo, mesmo quando consegue ver o inimigo na borda da tela. Isso cria uma sensação de injustiça que desmotiva.

Uma obra de arte sertaneja 

Se há um aspecto em que Hell Clock brilha sem reservas é o visual. A direção de arte entrega um sertão mágico, seco, mas cheio de vida. Cores vibrantes, cenários detalhados e um design de personagens criativo fazem do jogo uma experiência visual marcante. É como ver o cangaço reinterpretado por um estúdio de fantasia.

Hell Clock

A interface é bem desenhada, os efeitos sonoros são satisfatórios, e a trilha principal é cativante. A dublagem também merece elogios: simples, divertida e carismática. Pena que os personagens têm poucas falas, o que prejudica a imersão nas repetições. Ainda assim, o jogo transborda identidade.

Desempenho instável e limitações evidentes 

Mesmo rodando em um PC potente, enfrentei quedas bruscas de desempenho. Em momentos com muitos inimigos na tela, o FPS caiu de 160 para menos de 50. Isso afeta diretamente o combate, que depende de precisão. Não encontrei bugs críticos, mas essas oscilações comprometem a fluidez.

Sei que o estúdio teve restrições de orçamento. Isso explica parte das limitações: repetição de salas, pouca variedade de inimigos no primeiro ato, e ausência de mapas dinâmicos. Não encaro isso como falha de dedicação — é uma limitação real. O jogo tem alma, tem esforço visível. Mas ainda carece de acabamento.

A alma está lá, mas o tempo não perdoa 

No fim, Hell Clock é um projeto cheio de paixão, com um universo original e potencial para crescer muito. Sua arte impressiona, sua gameplay tem boas ideias, e há momentos divertidos. Mas tudo isso é comprometido por decisões que sufocam a experiência.

A ausência de mapas procedurais e o sistema de tempo mal ajustado travam o ritmo. A sensação de repetição constante prejudica a motivação do jogador. Ainda assim, me diverti em diversos momentos, experimentei construções criativas e admirei cada detalhe artístico. O jogo tem identidade, e isso é raro.

Se esses pontos forem corrigidos, especialmente a variedade nos andares e o sistema de progressão, Hell Clock pode se tornar um dos grandes nomes do gênero no Brasil. Por enquanto, dou uma nota 7.5. Queria dar mais, mas ainda falta equilíbrio, variedade e liberdade de evolução. Torço para que o time siga desenvolvendo. O Brasil precisa de mais jogos assim: com voz própria, com estética marcante e com alma.

NOTA

8.0
★★★★★★★★★★

CONSIDERAÇÕES

Hell Clock é um jogo com grande potencial e identidade forte, mas que ainda precisa melhorar na variedade e no ritmo para realmente brilhar. Sua arte e ambientação são incríveis, mas o sistema de tempo e a repetição cansam. Vale acompanhar a evolução do projeto.

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