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Review | Alien: Rogue Incursion Evolved Edition (PC)

Existe uma memória gravada a ferro e fogo na minha mente de fã. A primeira vez que assisti Alien, o Oitavo Passageiro. Não no cinema, eu não sou tão antigo assim, mas num noite com meus pais, numa sala escura que parecia tão claustrofóbica quanto os corredores da Nostromo. O terror não era o monstro; era o silêncio, o bipe solitário no rastreador de movimento, a certeza de que algo estava lá, na sombra, esperando, e foi amor a primeira vista com a franquia.

Naveguei pela história errática dos jogos da série, uma verdadeira montanha-russa de qualidade que ia de clones de Pac-Man no Atari a shooters de fliperama da Konami, culminando na obra-prima que é Alien: Isolation. Isolation entendeu o bisturi. Entendeu o silêncio. E por uma década, pairou como um monolito, um lembrete do que era possível quando se respeitava o material original. Então, veio a promessa de Alien: Rogue Incursion. Uma promessa, para mim e para muitos, trancada atrás de uma muralha tecnológica chamada Realidade Virtual. Eu não tinha um VR. Então, como um espectador do lado de fora de uma câmara de hipersono, eu apenas observava os relatos: um jogo visualmente deslumbrante, atmosférico, mas também repetitivo, mal otimizado e com mecânicas que pareciam não se decidir entre o horror e a ação desenfreada. Eu sonhava em jogá-lo, mas a frustração era uma companheira constante.

Até agora. Com o lançamento de Alien: Rogue Incursion Evolved Edition, a porta da câmara finalmente se abriu. A promessa foi estendida a nós, os jogadores de “tela plana”. E a pergunta que me consumiu por meses finalmente pode ser respondida: pode um jogo nascido para uma realidade ser ressuscitado com sucesso em outra? Mais importante, ele consegue empunhar a marreta de James Cameron com a mesma precisão que Isolation empunhou o bisturi de Ridley Scott? Esta não é apenas uma análise. É uma expedição ao coração da colmeia, uma peregrinação de um fã que esperou tempo demais por este momento. E, como em toda boa história de Alien, eu não tenho certeza se vou gostar do que vou encontrar.

Fantasmas na Máquina

Em Rogue Incursion, vestimos as botas de Zula Hendricks, uma ex-Fuzileira Colonial que já tem um histórico com os Xenomorfos, cortesia do universo expandido dos quadrinhos da Dark Horse. Acompanhada pelo seu fiel (e, felizmente, não traiçoeiro) sintético, Davis, Zula responde a um pedido de socorro no planeta Purdan, apenas para encontrar uma instalação da Gemini Exoplanet Solutions já em colapso, infestada pela prole de Giger. A decisão da Survios de nos jogar in media res é acertada; ela dispensa a exposição cansativa e nos transforma em arqueólogos de um desastre, forçando-nos a juntar as peças da tragédia através de registros de áudio e terminais de computador espalhados pelos corredores manchados de sangue.

Alien: Rogue Incursion Evolved Edition

A conexão com Alien: Isolation, que o fã em mim tanto buscava, está aqui, mas não da forma que se espera. Não é uma sequência direta, claro; são desenvolvedores diferentes, histórias diferentes. Mas o DNA é inegável. Ambos os jogos se aninham naquele vácuo canônico de 57 anos entre os dois primeiros filmes, e ambos reverenciam a estética do “cassette futurism”, monitores de tubo, teclados mecânicos e uma sensação de tecnologia analógica e palpável. A grande diferença, no entanto, está no arquétipo. Em Isolation, éramos Amanda Ripley, uma engenheira. Vulnerável. Uma presa. Aqui, somos Zula Hendricks. Uma soldado. Uma caçadora. Essa mudança fundamental deveria redefinir o tom e os riscos, mas é aí que a narrativa começa a apresentar suas fissuras.

O jogo se esforça para contar sua história através do ambiente, um truque que Isolation dominou. Cada terminal com e-mails desesperados, cada registro de áudio capturando os últimos momentos de um cientista, deveria construir um mosaico de terror. O problema é que o design de gameplay de Rogue Incursion está em guerra direta com seu método narrativo. O ritmo é frenético, a ação é constante. O jogo te pune por ficar parado. A ameaça de uma emboscada de Xenomorfos, que reaparecem com uma regularidade quase cômica, transforma cada tentativa de absorver a lore numa corrida contra o relógio. A narrativa ambiental, que era a força motriz em Isolation, aqui se torna um ruído de fundo, uma distração perigosa.

A Dança da Rainha Decapitada

É impossível jogar a Evolved Edition sem sentir a ressaca da Realidade Virtual. A herança de sua plataforma original está por toda parte, como um código genético persistente. A observação de que certas mecânicas não se traduzem bem é dolorosamente precisa. Os corredores e arenas de combate, muitas vezes largos e abertos, parecem projetados para a liberdade de movimento e a presença física de um jogador em VR, e não para a navegação mais precisa e contida de um FPS tradicional.

Alien: Rogue Incursion Evolved Edition

O ritmo do jogo é seu maior paradoxo. Ele quer ser o shooter de ação de Aliens, mas se recusa a abandonar as amarras do survival horror de Alien. O loop de gameplay se estabelece na primeira hora e raramente se desvia: você explora um corredor escuro, resolve um quebra-cabeça ambiental simplista (geralmente envolvendo religar cabos numa caixa de força), é emboscado por um ou mais Xenomorfos, sobrevive por um triz e repete o processo. O que começa como um encontro genuinamente aterrorizante, rapidamente se degrada em uma rotina. Os Xenomorfos, o organismo perfeito, o ápice da evolução hostil, tornam-se um incômodo previsível, um obstáculo a ser despachado antes de prosseguir para o próximo objetivo.

A grande promessa da Evolved Edition era uma IA aprimorada, mais letal e imprevisível. A realidade, infelizmente, é mais modesta. Sim, ocasionalmente eles usam as paredes e o teto para se reposicionar, ou apareciam do nada e me davam pequenos jumps scares. Notei, em alguns momentos, uma tendência a recuar quando sofriam dano pesado, apenas para um companheiro de colmeia atacar e desviar minha atenção. Mas na maior parte do tempo, a tática deles ainda se resume a correr na minha direção em linha reta, com a sutileza de um trem de carga, embora algumas vezes eles andavam para outros lados tentando se esconder. A comparação com a IA de Isolation é quase cruel. Lá, tínhamos uma única criatura, um predador alfa com um comportamento dinâmico e aterrorizadoramente imprevisível que aprendia com suas ações. Aqui, temos um enxame de drones com um roteiro. A evolução prometida parece mais uma pequena mutação do que um salto adaptativo.

Isso nos leva à contradição central da experiência: o jogo quer que você se sinta como um Fuzileiro Colonial, um soldado de elite, mas constantemente sabota essa fantasia de poder.

Sobrevivência em Curto-Circuito

Vamos dissecar as ferramentas do ofício. O arsenal de Zula consiste em três pilares: o icônico Fuzil de Pulso M41A, uma escopeta de ação por bombeamento e um revólver de seis tiros. O Fuzil de Pulso soa como deveria, um som que é música para os ouvidos de qualquer fã, mas as outras duas armas parecem estranhamente genéricas, como se tivessem sido tiradas de um faroeste e não de um futuro de ficção científica. A recarga da escopeta, cartucho por cartucho, é uma mecânica claramente pensada para a fisicalidade do VR; num controle, ela se torna um ritual lento e tenso que pode ser tanto imersivo quanto mortalmente frustrante no calor da batalha.

A repetitividade do gameplay é exacerbada pela falta gritante de variedade de inimigos. Durante 95% do tempo, você enfrentará o mesmo modelo de guerreiro Xenomorfo, o que sinceramente, é esperado e eu não reclamo. Ocasionalmente, o jogo lança um punhado de Facehuggers para te manter alerta, e há encontros com um Pretoriano maior e mais resistente, mas essas são exceções que apenas confirmam a regra. Depois de algumas horas, você já viu tudo que a colmeia tem a oferecer, e a estratégia para lidar com eles permanece a mesma: atire na cabeça e mantenha distância.

Alien: Rogue Incursion Evolved Edition

O sistema de salvamento, as “Panic Rooms”, é uma herança direta de Alien: Isolation e carrega a mesma filosofia de design de alto risco e alta recompensa. Salvar seu progresso é um ato deliberado, um momento de alívio conquistado com suor e sangue. Isso cria uma tensão inegável, onde cada passo para longe da segurança é uma aposta. No entanto, a implementação aqui é mais punitiva. A frequência de encontros é muito maior do que em Isolation, o que significa que as chances de uma morte súbita e injusta também são. Perder um longo trecho de progresso porque um Xeno apareceu do nada atrás de você enquanto você resolvia um quebra-cabeça de religação de fios é uma experiência que testa os limites da paciência.

E quanto à furtividade? Ela existe, em teoria. O jogo te incentiva a andar agachado, a evitar barulhos, e o seu rastreador de movimento é seu melhor amigo. Na prática, porém, a furtividade raramente parece uma opção viável. Muitos encontros são roteirizados e inevitáveis, e a IA dos Xenos, embora não seja onisciente, parece ter uma habilidade sobrenatural de saber onde você está na maior parte do tempo. A furtividade acaba se tornando não uma estratégia, mas um breve prelúdio para o combate inevitável.

No fim, as mecânicas de Rogue Incursion são a evidência mais clara de suas origens. Cada sistema parece ter sido projetado com a imersão do VR em mente, em detrimento da profundidade e do equilíbrio de um FPS tradicional. Um arsenal pequeno é mais impactante quando você pode “sentir” o peso de cada arma. Quebra-cabeças simples são preferíveis quando a interação é física. A furtividade subdesenvolvida é perdoável quando o susto de uma emboscada é o principal objetivo. A Evolved Edition não apenas portou o jogo, ela portou uma filosofia de design que, em uma tela plana, revela suas rachaduras.

Sinfonia para um Massacre

Se o gameplay de Rogue Incursion é um campo de batalha de ideias conflitantes, sua apresentação audiovisual é uma vitória retumbante e incondicional. Este é, sem sombra de dúvida, um dos jogos do universo Alien mais bonitos já feitos. A Survios não apenas recriou a estética retro-futurista dos filmes; ela a habitou. Cada corredor de metal corroído, cada terminal piscando com texto verde, cada jato de vapor que escapa de um cano rompido é uma carta de amor visual. Construído na Unreal Engine 5, o jogo utiliza tecnologias como a Névoa Volumétrica para criar o “miasma” característico da franquia, uma atmosfera densa e palpável onde a luz luta para penetrar e as sombras dançam com ameaças não vistas. A iluminação é a verdadeira estrela, esculpindo o ambiente e ditando o ritmo do nosso medo.

Com tudo no máximo, incluindo o Ray Tracing, o espetáculo é ainda mais impressionante. O traçado de raios não é um truque aqui; é uma camada essencial de realismo. Ele dá aos pisos molhados um brilho úmido e verossímil, faz com que a carapaça quitinosa dos Xenomorfos reflita a luz da sua lanterna de forma perturbadora e aprofunda as sombras, tornando-as refúgios ainda mais aterrorizantes para o que se esconde nelas. É um aprimoramento que, embora sutil em alguns momentos, contribui imensamente para a sensação de estar realmente .

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Mas se os visuais são o corpo do jogo, o áudio é sua alma negra e pulsante. O design de som é, sem exagero, uma obra-prima e a faceta mais bem-sucedida do jogo. O uso de áudio 3D é exemplar. Eu me peguei parado em corredores escuros, de arma em punho, não olhando para o meu rastreador de movimento, mas fechando os olhos e apenas ouvindo. O som de garras arranhando metal dentro de um duto de ventilação acima da minha cabeça, o silvo gutural ecoando de uma sala à minha esquerda… o som se torna sua principal ferramenta de sobrevivência, mais confiável do que seus olhos. A autenticidade é assustadora; a Survios teve acesso aos arquivos de som originais dos filmes, e isso transparece. O bipe icônico do rastreador, o som do Fuzil de Pulso, o grito agudo de um Xenomorfo, tudo está perfeito.

Alien: Rogue Incursion Evolved Edition

A trilha sonora original de Sara Barone merece um destaque especial. Ela evita melodias grandiosas em favor de uma paisagem sonora atmosférica e dissonante que se mistura perfeitamente com os sons do ambiente. A música raramente se anuncia; ela se infiltra, aumentando a tensão de forma quase subliminar, até que você não sabe mais se o que está ouvindo é um instrumento ou o som de uma criatura se aproximando.

O Fantasma na Minha Máquina

Agora, vamos à parte técnica, ao coração de metal e silício da experiência no PC. Minha máquina de guerra para esta incursão foi um Ryzen 7 5700X, uma RTX 4060 e 32 GB de RAM, com o jogo rodando em uma resolução nativa de 1080p. Sabendo da reputação da versão VR por sua má otimização, eu estava preparado para o pior. A Evolved Edition tinha muito a provar.

Com todas as configurações no máximo, incluindo o já mencionado Ray Tracing, a experiência foi exatamente como a descrita: uma dança estável entre 50 e 80 quadros por segundo. Em corredores silenciosos e momentos de exploração, o jogo se agarrava aos 70 FPS. No entanto, bastava um combate mais intenso, com dois ou três Xenomorfos na tela, efeitos de partículas do sangue ácido e o clarão dos tiros, para a taxa de quadros cair visivelmente para a casa dos 50. É jogável? Sim.

Mas então, eu ativei a magia negra da NVIDIA. Com o DLSS ajustado para o modo “Qualidade” e o Frame Generation ligado, a transformação foi da noite para o dia. O contador de quadros saltou para a casa dos 120 FPS e lá permaneceu, sólido como uma rocha. A suavidade era palpável. Mirar tornou-se instantâneo, o movimento pelo cenário, fluido. Foi como tirar um peso dos ombros do jogo. A qualidade de imagem do DLSS em 1080p é excelente, com pouquíssima perda de nitidez perceptível em relação à resolução nativa. O Frame Generation, a tecnologia que interpola quadros para aumentar drasticamente a fluidez, é o verdadeiro herói aqui. A latência de entrada adicional, uma preocupação comum com essa tecnologia, não foi um problema perceptível para mim, provavelmente porque a taxa de quadros base já era decente.

Uma Promessa Gravada em Ácido

Ao final da jornada, com o bipe do rastreador de movimento ainda ecoando em meus ouvidos, uma verdade se torna clara: Alien: Rogue Incursion Evolved Edition é um organismo de profundas e fascinantes contradições. É uma obra-prima audiovisual, uma das recriações mais fiéis e atmosféricas de um universo cinematográfico que eu já vi, acorrentada a um esqueleto de gameplay que é, na melhor das hipóteses, funcional e, na pior, repetitivo e frustrante. É uma carta de amor à ação militarizada de Aliens, mas que insiste em usar as mecânicas de sobrevivência punitivas de Alien: Isolation, criando uma crise de identidade que permeia toda a experiência. É um jogo nascido para a imersão total do VR, e em uma tela plana, ele consegue ser ao mesmo tempo incrivelmente envolvente e estranhamente desajeitado.

Então, a pergunta final: vale a pena? Para o fã, para aquele que, como eu, tem a geografia da Sulaco e da Hadley’s Hope mapeada na alma, a resposta é um sim. Um sim com ressalvas, um sim que vem com um asterisco, mas ainda assim, um sim. A pura emoção de habitar este mundo, de sentir o peso do Fuzil de Pulso, de ver a silhueta inconfundível emergir da fumaça, é uma droga poderosa. A atmosfera, por si só, quase justifica o preço da entrada. Para o jogador casual, o entusiasta de FPS ou de survival horror que não compartilha dessa bagagem emocional, a recomendação é muito mais cautelosa. A repetitividade pode esgotar a paciência, e o design punitivo pode transformar a diversão em trabalho.

Alien: Rogue Incursion Evolved Edition

No fim, a metáfora mais adequada para Alien: Rogue Incursion é a de um organismo incompleto. Sua tentativa de fundir dois gêneros distintos resulta em uma criatura híbrida e instável. É um espécime belo, aterrorizante e profundamente falho, uma crisálida esperando para eclodir. E talvez o verdadeiro horror de Rogue Incursion não seja o Xenomorfo escondido nas sombras, mas a espera agonizante e a incerteza de saber se a Parte Dois permitirá que este organismo finalmente evolua para a forma perfeita e letal que todos nós, fãs, sonhamos que ele poderia ser.

Gustavo Feltes
Gustavo Feltes
Eu amo jogar, jogar é uma parte de mim. Cada história, momento, universo e gameplay me encantam. Eu não tenho restrições de jogos, cada célula do meu corpo clama por isso.
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