Arcade Galaxy chega com uma proposta que beira a genialidade ou a mais pura preguiça: em vez de nos vender um jogo, a RCADE Corp. e a Macaca Games vendem-nos uma caixa de ferramentas e esperam que nós façamos o trabalho. É uma aposta ousada, uma fusão declarada do caos de Super Mario Kart com a criatividade de Rollercoaster Tycoon que entrega o destino do seu universo nas mãos de uma comunidade que ainda mal existe. A questão, portanto, não é se o jogo é bom agora, mas se algum dia, com o esforço dos outros, ele terá a chance de ser. Ao avaliar Arcade Galaxy, não estamos a analisar um produto acabado, mas sim o potencial de um ecossistema, uma aposta de alto risco onde o fracasso não é apenas uma possibilidade, é o estado padrão.
Onde Ninguém Jamais Foi
Vamos ser diretos: Arcade Galaxy não tem uma história. Tem um slogan. A premissa é que somos um “Arquiteto da Aventura” num “universo vibrante de caos”. Fim. Não há um vilão, um mistério ou um objetivo maior. É um vazio narrativo tão profundo que faz o espaço sideral parecer um bairro movimentado. Alguns diriam que é uma tela em branco para os jogadores, mas eu chamo-lhe uma oportunidade perdida, uma apatia que deixa o seu universo, supostamente uma galáxia de planetas temáticos, a parecer assustadoramente estéril e sem alma. Corremos porque… bem, porque é isso que se faz.

A Gravidade da Diversão
Felizmente, quando a ausência de propósito começa a pesar, o ato de jogar revela-se surpreendentemente competente. Controlar o meu Cub, um urso com óculos de sol, tem um peso satisfatório. Os controlos são responsivos; a corrida tem inércia e a escalada de paredes funciona sem grande frustração. No multijogador online, numa pista criada por um utilizador chamada “Trial by Fire”, o caos reinou. Era um pesadelo vertical de plataformas e lasers. Terminei em terceiro, não por habilidade, mas por pura sorte e pela desgraça dos outros. A experiência encapsula a filosofia do jogo: não se trata de ser o melhor piloto, mas sim o melhor gestor de caos. É um “party platformer” acessível e hilariante em grupo, mas a qualidade da diversão depende inteiramente da qualidade dos mapas da comunidade.
Brincando de Deus num Parquinho Digital
O coração de Arcade Galaxy é o seu editor de níveis. Anunciado como “intuitivo”, a promessa é, na sua maior parte, cumprida. A interface de arrastar e soltar é simples e, para os mais ambiciosos, um editor de lógica visual permite programar comportamentos complexos. É uma ferramenta poderosa. No entanto, há um elefante na sala: a integração opcional com a tecnologia Web3. O jogo apresenta uma economia baseada em criptomoedas e NFTs, com um modelo que recompensa financeiramente os jogadores por criarem mapas populares. Os criadores defendem que isto é uma forma de “recompensar os criadores”. Eu chamo-lhe uma forma de corromper a criatividade. Ao introduzir um incentivo financeiro, a motivação para criar deixa de ser a diversão e passa a ser o lucro, arriscando-se a transformar um passatempo numa “quinta de conteúdo”.

Um Carnaval de Nêon
Visualmente, Arcade Galaxy é colorido, vibrante e profundamente genérico. A direção de arte opta por uma estética “fofa” e segura, com personagens que parecem saídos de uma linha de montagem de mascotes para jogos mobile. Falta-lhe uma identidade forte, uma assinatura que o distinga. A paisagem sonora segue o mesmo caminho. A música é animada e eletrónica, funcional para manter a energia elevada, mas completamente esquecível assim que se desliga o jogo. O áudio e os visuais fazem o seu trabalho, mas sem qualquer rasgo de brilhantismo.
Liso Como Seda Cósmica
Num PC com um Ryzen 7 5700x, uma RTX 4060 e 32 GB de RAM, o jogo correu de forma absolutamente impecável. A taxa de fotogramas foi sólida e os carregamentos instantâneos. Isto, no entanto, não é um elogio, mas uma constatação. Com requisitos mínimos de um processador Single Core e 2 GB de espaço, o meu sistema estava a bocejar de tédio. Esta acessibilidade é estratégica, mas tem um custo: a simplicidade gráfica torna-se evidente. O desempenho é perfeito, mas o espetáculo visual é dececionante.

Uma Caixa de Brinquedos Cheia ou Vazia?
A minha impressão de Arcade Galaxy é a de que ele não é um jogo, mas uma plataforma. Uma promessa. Uma caixa de brinquedos tecnicamente sólida e, por enquanto, quase completamente vazia. Os criadores construíram um palco impressionante, mas entregaram o fardo de escrever a peça à sua futura audiência. O seu sucesso ou fracasso repousa, de forma assustadora, sobre os ombros da comunidade. A direção de arte genérica, a ausência de um gancho narrativo e a inclusão cínica de mecânicas “play-to-earn” são obstáculos monumentais. Arcade Galaxy oferece as ferramentas para construir um universo, mas não lhe dá uma única razão para se importar com ele. A questão que fica no ar é se os jogadores virão para brincar na caixa de areia, ou se virão apenas para tentar vender a areia uns aos outros.
