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Review | Sunken Engine (PC)

A MÁQUINA QUE AFUNDA DENTRO DE NÓS

Há jogos que não pedem pressa. Sunken Engine é um deles.
Ele não te convida a correr, a atirar ou a vencer. Ele te convida a observar e a afundar, pouco a pouco, em algo que parece mais com um estado de consciência do que com um jogo.

Você começa herdeiro de um estaleiro decadente, cercado por névoas, ferrugem e promessas de algo que talvez nunca existiu. E enquanto as máquinas dormem, você escuta o mar respirar, como se ele tivesse algo a dizer. Há algo inquietante no modo como Sunken Engine transforma o ordinário, consertar barcos, atender clientes, lidar com contas, em uma experiência quase espiritual, quase de terror.

Não é um jogo sobre vencer, é um jogo sobre entender o peso de continuar. E sobre o que resta de nós quando tudo o que herdamos é silêncio.

HISTÓRIA

A história de Sunken Engine parece simples no papel: o protagonista herda o estaleiro do pai falecido e precisa fazê-lo prosperar. Mas logo percebe que há algo errado, os navios que chegam trazem histórias demais. Uns parecem amaldiçoados, outros simplesmente… vivos.

Sunken Engine

O jogo não entrega respostas, ele as deixa boiando, como destroços. Documentos, bilhetes, gravações, fragmentos de memórias, tudo está ali, esperando que o jogador reconstrua não só o passado da empresa, mas também o da própria humanidade. A herança que você recebe não é só material; é emocional. É a sensação de continuar um trabalho que talvez nunca devesse ter existido. E a cada navio reparado, o mar parece mais inquieto, como se algo lá embaixo estivesse observando.

A narrativa trabalha bem com o silêncio. Não há longos diálogos, nem explicações exatas. Há uma presença constante, algo entre o humano e o inominável, que torna o ambiente pesado. Você sente que o estaleiro inteiro é um corpo vivo, pulsando memórias antigas e corroídas. E aos poucos, Sunken Engine te faz perceber que o verdadeiro motor afundado não é o das embarcações, mas o que existe dentro de cada pessoa que continua tentando consertar o que o tempo insiste em destruir.

GAMEPLAY

Sunken Engine é um simulador de reparo e gestão, mas isso é apenas a superfície.
Você conserta navios, coleta peças, gerencia recursos e tenta equilibrar as contas do estaleiro. Mas há algo de estranho em tudo isso, como se o próprio ato de trabalhar fosse uma forma de exorcismo.

O ritmo é lento, e isso é proposital. Cada prego martelado, cada válvula girada, cada casco lixado parece ter peso emocional. É como se o jogo quisesse te ensinar a respeitar o silêncio das coisas. Em alguns momentos, enquanto desmonta um motor, você percebe algo fora do lugar, uma mancha viva, um som que não pertence àquele espaço. O jogo brinca com essa ambiguidade: você nunca sabe se o que está acontecendo é real ou se é só a mente do protagonista se fragmentando sob a pressão da rotina e do isolamento.

Sunken Engine

As tarefas são mecânicas, mas não monótonas. Há também a administração do negócio: negociar com clientes, lidar com reputação, comprar materiais. Mas mesmo essa parte, que deveria ser puramente técnica, carrega um peso emocional. Às vezes, recusar um serviço não é apenas uma decisão financeira, é um ato de autopreservação. O terror não está em monstros, mas em perceber que, quanto mais você trabalha, mais o mar parece acordar. E quando ele acorda, algo em você afunda junto.

MECÂNICAS

As mecânicas de Sunken Engine são a espinha dorsal dessa experiência.
Elas combinam simulação, gerenciamento e exploração narrativa de um jeito único. Você desmonta motores, analisa peças, recupera materiais raros e precisa entender como cada componente se encaixa no sistema, tanto físico quanto simbólico.

Há um sistema de sanidade leve, sutil, mas constante. Trabalhar demais, ignorar sinais ou mexer em certos navios pode afetar a percepção do personagem. Às vezes, o som muda. Às vezes, as cores do mundo se distorcem. O jogo nunca avisa o que é real e o que é imaginação.

Sunken Engine

Há também pequenas escolhas narrativas escondidas entre as tarefas.
Aceitar um contrato suspeito pode render lucro… ou algo pior. Recusar pode salvar você, mas deixar o estaleiro à beira da falência. Essa dualidade reforça a metáfora central: até onde vale afundar pelo que herdamos? As mecânicas são simples, mas tudo nelas tem intenção. Nenhum clique é gratuito. É o tipo de design que fala mais do que mostra, o que se encaixa perfeitamente com o clima existencial que permeia o jogo.

VISUAL E ÁUDIO

Visualmente, Sunken Engine é um mergulho entre o grotesco e o melancólico.
O estilo lembra pinturas úmidas, onde a luz parece sempre filtrada por névoa e ferrugem. Há uma beleza triste nas texturas: os reflexos na água, o brilho das ferramentas, as sombras das lâmpadas tremendo como se tivessem medo. A arte do jogo é absurdamente linda e lúdica.

Sunken Engine

A paleta mistura tons de verde musgo, cobre e ocre, criando um contraste constante entre o orgânico e o industrial. É como se o mundo estivesse sendo engolido pela própria criação.
Cada navio é diferente, mas todos têm algo em comum, parecem máquinas com alma.

E o áudio é uma confissão. O som do motor engasgando, o ranger das tábuas, o vento batendo nas janelas. A trilha sonora é minimalista, quase inexistente, quando aparece, vem como um sussurro, um coro distante de vozes submersas. O barulho do mar não é reconfortante aqui. Ele soa como um aviso. Como se o oceano falasse uma língua que você entende apenas quando é tarde demais.

DESEMPENHO

Joguei Sunken Engine no meu setup Ryzen 7 5700, 32 GB RAM, RTX 4060 e B550M, e o desempenho foi sólido.
Mesmo em áreas com partículas pesadas e reflexos de água complexos, o jogo manteve estabilidade e fluidez. A otimização surpreende, principalmente para um título em Early Access.

Alguns bugs visuais aparecem, reflexos piscando, sombras tremendo, mas curiosamente, eles parecem combinar com a estética decadente do mundo. É como se o próprio jogo estivesse respirando com dificuldade.
Nada que quebre a imersão; pelo contrário, reforça a sensação de estar lidando com algo incompleto, quebrado, como o próprio universo que ele retrata.

O salvamento automático funciona bem, e o carregamento entre áreas é rápido, mantendo a imersão contínua. Tecnicamente, é uma base firme para um jogo que ainda está sendo moldado, o motor afundado ainda gira, e gira bem.

CONCLUSÃO

Sunken Engine é um jogo sobre herança, o que herdamos dos outros, e o que deixamos que nos afunde junto.
É sobre o peso da repetição, o medo do fracasso, e o eco constante do que não entendemos. Ele te faz trabalhar, observar, reparar… mas o que ele realmente quer é te fazer pensar no que significa “consertar” algo quando o estrago está dentro.

Sunken Engine

Não é um jogo para todos. Sua lentidão é intencional, sua estranheza é o coração pulsante. Quem busca ação vai achar tedioso; quem busca sentido, como eu, vai encontrar um espelho. Sunken Engine é como olhar o fundo do mar e ver o próprio reflexo distorcido, familiar, mas inatingível. E quando termina, você não sabe se salvou o estaleiro ou se apenas ajudou ele a afundar com mais elegância.

Talvez, no fim, todos sejamos só motores tentando continuar girando, mesmo quando já estamos cheios d’água.

NOTA

9.0
★★★★★★★★★★

CONSIDERAÇÕES

Sunken Engine é menos sobre o que você faz e mais sobre o que ele desperta. Um simulador de ferrugem e alma, onde cada ruído do mar parece sussurrar: há beleza até no que se quebra.

Marina Jagmin
Marina Jagmin
Amante de jogos de terror, fascinada pelo universo dos games e suas histórias. Apaixonada por FPS e desafios de enigmas que testam mente e coragem.
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