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Review | HITMAN – Eminem vs. Slim Shady DLC (PS5)

O Reflexo da Loucura

Eu preciso confessar a vocês que quando a IO Interactive anunciou essa colaboração eu soltei uma risada de incredulidade genuína misturada com um ceticismo quase palpável. Eminem em Hitman? A ideia parecia tão desconexa e tão puramente marqueteira que eu já estava pronto para destilar todo o meu veneno crítico sobre o que imaginava ser apenas uma modificação preguiçosa para arrancar dinheiro de fãs nostálgicos. Mas meus caros como é delicioso estar errado e ser surpreendido dessa forma tão avassaladora. O que presenciei ao ligar meu PlayStation 5 e mergulhar em Eminem vs. Slim Shady não foi apenas um conteúdo extra qualquer foi uma experiência de uma audácia estética e narrativa que me deixou absolutamente acachapante e sem chão.

HITMAN - Eminem vs. Slim Shady DLC

Estamos falando de dezembro de 2025 e o World of Assassination já é uma plataforma consolidada mas aqui eles decidiram rasgar a cartilha do realismo sóbrio que sempre pautou a franquia. Ao transformar a clínica GAMA de Hokkaido no surrealista Popsomp Hills Asylum os desenvolvedores não apenas mudaram o cenário eles permitiram que a psique fraturada de Marshall Mathers infectasse o código do jogo de uma maneira que eu raramente vi nesta indústria. É uma fusão que transcende o videogame e flerta com a performance artística interativa de alto nível.

DUELO DE EGOS

A narrativa deste DLC é sem dúvida o ponto mais alto e surpreendente para mim pois foge de tudo o que esperávamos. Normalmente Hitman nos coloca contra vilões corporativos ou terroristas genéricos figuras que são fáceis de odiar e descartar sem pensar duas vezes. Aqui o buraco é muito mais embaixo e toca em feridas psicológicas. Marshall Mathers nos contrata para eliminar Slim Shady mas a genialidade da trama reside no fato de que Shady não é uma pessoa real no sentido estrito. Ele é uma projeção um fantasma do passado que se recusa a morrer e que sequestrou a realidade daquele lugar.

Eu fiquei fascinado com a forma como o jogo traduz o conflito interno do álbum para a linguagem dos videogames de uma maneira tão orgânica. Shady não é apresentado como um vilão qualquer mas como uma praga uma versão anárquica e jovial de Eminem que despreza o envelhecimento e a maturidade do artista atual. Ouvir os diálogos e a rádio pirata onde Shady divaga sobre a cultura do cancelamento e sobre como o mundo ficou mole cria uma tensão palpável que te deixa desconfortável na cadeira. É um estudo de personagem onde a violência é a única forma de resolução de conflitos internos.

HITMAN - Eminem vs. Slim Shady DLC

A presença de Paul Rosenberg o eterno empresário tentando gerenciar esse caos onírico adiciona aquele toque de realismo cínico que eu adoro e que serve como âncora. A história não tenta se levar a sério demais mas ao mesmo tempo trata a dualidade do artista com um respeito impressionante. É uma batalha de egos onde nós somos a arma definitiva. E quando o desfecho chega ele não traz apenas a satisfação do dever cumprido mas uma reflexão melancólica sobre o preço da fama e a impossibilidade de fugir de quem fomos. É uma narrativa que tem sentimentos reais pulsando sob a superfície digital e que me tocou de uma forma que eu não previa.

ATRAVESSANDO O ESPELHO

Se a história é a mente o gameplay é a manifestação física dessa loucura e no PS5 isso se traduz em uma das experiências mais dinâmicas que já tive na série. A grande estrela aqui é a mecânica da dimensão do espelho que muda tudo o que você acha que sabe sobre Hitman. Eu me lembro de parar diante de um reflexo e perceber que não estava olhando para mim mesmo mas para um portal para o abismo. Atravessar o espelho e entrar em uma versão distorcida e sombria de Hokkaido muda completamente as regras do jogo e te obriga a reaprender a navegar pelo espaço.

É de uma criatividade que beira o absurdo e te desafia constantemente. Dentro dessa dimensão a lógica espacial é subvertida de formas que confundem e encantam. Caminhos que estariam bloqueados no mundo real se abrem permitindo atalhos impossíveis e flanqueamentos que deixam a inteligência artificial dos inimigos tonta e perdida. Empurrar Slim Shady para dentro do espelho prendendo ele eternamente em seu próprio narcisismo é uma das eliminações mais poéticas e satisfatórias que já executei em toda a minha vida de jogador.

HITMAN - Eminem vs. Slim Shady DLC

Além da missão principal o pacote traz o contrato Arcade The Antithesis que eleva a tensão a outro patamar. E aqui meus amigos é onde a brincadeira fica séria e o jogo mostra seus dentes. O Nível 1 nos permite explorar com certa liberdade mas o Nível 2 é punitivo e implacável. Ele exige uma precisão que me fez suar frio com restrições que forçam o jogador a dominar cada centímetro do mapa sob pena de falhar miseravelmente. Se falhar você encara um bloqueio de trinta minutos que serve como um castigo para refletir sobre seus erros. Pode parecer frustrante para alguns mas eu achei que adicionou um peso necessário às minhas ações transformando cada decisão em algo crucial.

A rotina de Slim Shady é errática e imprevisível cheia de teletransportes e interações com o cenário que transformam o mapa em um videoclipe vivo e pulsante. Rastrear esse alvo exigiu que eu abandonasse a lógica fria de 47 e abraçasse o caos desenfreado. É um gameplay que não apenas diverte mas desafia as convenções que a própria IO Interactive estabeleceu provando que ainda há muito suco para espremer dessa fórmula consagrada.

O ARSENAL DO ABSURDO

Vamos falar das ferramentas porque é aqui que o humor negro da IOI brilha com força total e nos presenteia com o bizarro. O pacote introduz itens que parecem piadas de mau gosto à primeira vista mas que funcionam como mecânicas legítimas e hilárias nas mãos certas. O destaque absoluto é o Pato Motosserra que se tornou instantaneamente meu item favorito. Eu soltei uma gargalhada genuína quando joguei esse patinho de borracha no chão e vi o resultado. Ele não apenas explode ele emite um som de motosserra acelerando que atrai a curiosidade mórbida dos NPCs e parece soltar xingamentos e frases desconexas antes de detonar tudo ao redor. É o caos engarrafado em forma de brinquedo de banho.

HITMAN - Eminem vs. Slim Shady DLC

Outra adição preciosa é a Pistola de Pegadinha que subverte a expectativa de poder de fogo. Visualmente parece um brinquedo inofensivo algo que você daria a uma criança travessa e que não causaria dano algum. Mas em jogo ela é uma ferramenta de manipulação psicológica refinada. Você pode usá-la para causar pânico ou distrações sonoras sem necessariamente alertar todos os guardas para uma ameaça letal imediata. A forma como a inteligência artificial reage a ela com uma confusão palpável abre janelas de oportunidade que armas convencionais simplesmente fechariam na sua cara.

E não posso deixar de mencionar o famigerado Mom’s Spaghetti que foi imortalizado aqui de forma brilhante. Sim eles transformaram o meme em uma arma letal e eu adorei cada segundo disso. Envenenar o sanduíche de espaguete de Shady é um daqueles momentos em que o jogo pisca para você e diz que sabe o quão ridículo aquilo é mas te convida a se divertir mesmo assim. Há também referências visuais bizarras como um porco assado que aparece em contextos oníricos servindo como marcos dessa realidade deturpada e grotesca.

As mecânicas de disfarce também ganham um novo sabor com os trajes MC Fit e Only Overalls que quebram a seriedade do Agente 47. Ver o nosso assassino careca sempre tão elegante vestido com roupas largas de hip hop ou um macacão de operário enquanto executa assassinatos silenciosos é de uma dissonância cognitiva deliciosa. Tudo isso contribui para a sensação de que as regras do mundo real foram suspensas e substituídas pelas regras de um pesadelo pop onde tudo é possível.

ESTÉTICA DO COLAPSO

Visualmente o trabalho feito no PS5 é de tirar o fôlego e mostra o poder da nova geração quando bem utilizado. Hokkaido sempre foi um mapa estéril limpo e quase cirúrgico em sua brancura. Vê-lo transformado em uma balada neon com pichações luzes estroboscópicas e uma atmosfera carregada de roxos e verdes ácidos é impactante e muda completamente o tom da missão.

Mas é no design de áudio que este DLC me ganhou completamente e me fez aumentar o volume. A trilha sonora pulsa com vida e energia. Trechos de sucessos como Houdini e batidas originais invadem o ambiente não como música de fundo genérica mas como parte integrante do cenário que dita o ritmo da sua ação. O som no PS5 com o áudio 3D é envolvente e te coloca dentro da cabeça do Eminem. Você consegue ouvir a direção exata de onde vem a rima de Shady permitindo rastreá-lo pelo ouvido em meio ao caos visual que se desenrola na tela.

A dublagem merece um destaque à parte pela coragem da direção. Marshall Mathers entrega uma performance cansada e cínica que convence e passa verdade mas é a voz de Slim Shady que causa estranhamento proposital. Há uma artificialidade ali um tom jovial e anasalado que soa como se tivesse sido processado por filtros de rejuvenescimento ou IA muito similar ao que foi feito no álbum. Longe de ser um defeito isso cria um vale da estranheza sonoro que reforça a ideia de que Shady não é humano mas uma gravação antiga ganhando vida e atormentando o presente. É desconfortável e brilhante na mesma medida.

PODER DE FOGO

Jogar no PlayStation 5 é na maior parte do tempo uma experiência de seda pura. O jogo mira nos sessenta quadros por segundo e na exploração geral ele entrega essa fluidez com louvor mantendo a ação responsiva. No entanto a ambição técnica cobra seu preço em momentos de caos extremo. Quando a tela se enche de partículas na dimensão do espelho ou durante o show de Shady com luzes piscando e personagens dançando freneticamente notei engasgos pontuais. Não é nada que destrua a experiência ou que te faça perder o controle mas é perceptível aquela queda momentânea na taxa de quadros revelando que a engine está sendo empurrada ao seu limite absoluto para renderizar duas realidades simultaneamente.

HITMAN - Eminem vs. Slim Shady DLC

Os tempos de carregamento são praticamente inexistentes graças ao SSD o que é uma bênção para quem gosta de experimentar. A transição entre o menu e o jogo é instantânea mantendo o ritmo acelerado e evitando que a frustração se instale após um erro fatal no modo Arcade permitindo que você volte para a ação num piscar de olhos.

O GRAND FINALE

Eu terminei Eminem vs. Slim Shady com um sorriso no rosto e a sensação de ter testemunhado algo único e irrepetível. É uma obra que caminha na corda bamba entre o genial e o ridículo e se equilibra ali com uma confiança invejável que poucos estúdios teriam. A IO Interactive poderia ter feito o mínimo entregando apenas uma modificação simples mas entregou uma experiência que é ao mesmo tempo uma celebração da carreira de Eminem e uma desconstrução das mecânicas de Hitman.

Vale a pena investir seu tempo nisso? Se você tem o jogo base o conteúdo gratuito do Alvo Elusivo é imperdível uma daquelas experiências que você precisa jogar para crer que existe. Já o pacote pago com o acesso permanente ao modo Arcade e os itens cosméticos bizarros é um prato cheio para quem quer estender a brincadeira e levar um pouco desse caos para outras missões do jogo.

A conclusão a que chego é que este DLC é um triunfo da criatividade sobre a lógica comercial fria. É dinâmico é original e acima de tudo é divertido de uma forma visceral que te prende do início ao fim. Marshall Mathers pode ter tentado matar Slim Shady na música mas foi aqui no mundo digital e tátil do PlayStation 5 que o funeral realmente aconteceu com todas as honras. E que funeral espetacular meus caros. É de uma ousadia que merece ser aplaudida de pé.

NOTA

9.0
★★★★★★★★★★

CONSIDERAÇÕES

Uma viagem alucinante e tecnicamente impressionante que transforma um meme em uma obra de arte interativa. O uso do DualSense é soberbo e a narrativa do duelo de egos justifica cada segundo da loucura visual. Imperdível para fãs e curiosos.

Gustavo Feltes
Gustavo Feltes
Eu amo jogar, jogar é uma parte de mim. Cada história, momento, universo e gameplay me encantam. Eu não tenho restrições de jogos, cada célula do meu corpo clama por isso.
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