Minha primeira imersão em Castle of Blackwater revelou um jogo que, à primeira vista, parecia prometer a adrenalina eletrizante de um Among Us com uma roupagem de fantasia sombria e um toque de magia. Lançado em 25 de março de 2025 e desenvolvido pela própria equipe Castle of Blackwater, ele se posiciona como um jogo de dedução social 2D repleto de ação.
A premissa central é clara e intrigante: um grupo de estranhos é aprisionado em um castelo repleto de perigos e enganos, com a missão de completar tarefas e encontrar a saída ou, para os mais traiçoeiros, eliminar os outros para garantir a própria vitória.
Apesar da clareza da proposta, notei uma pequena inconsistência: enquanto a página oficial do Steam indica a participação de até 10 jogadores, outras fontes sugerem até 15. Para esta análise, considerei a informação da Steam como a mais atual e precisa para a versão comercializada.
Como alguém que respira jogos e busca experiências que desafiem a mente e a interação humana, Castle of Blackwater despertou meu interesse imediatamente. A ideia de um “twist mágico” no gênero de dedução social me cativou, prometendo ir além das fórmulas já estabelecidas. A expectativa era de um título que não apenas replicasse o sucesso de seus antecessores, mas que o elevasse, introduzindo novas camadas de complexidade e elementos fantásticos.
Este jogo demonstra a intenção clara dos desenvolvedores de inovar dentro de um gênero já familiar, apostando em personagens com habilidades únicas. A esperança é que essa abordagem não seja apenas um adorno, mas que aprofunde a experiência, oferecendo escolhas estratégicas mais ricas e dinâmicas, além da simples caça ao impostor. Minha análise buscará verificar se essa “magia” realmente enriquece a jogabilidade central ou se adiciona complexidade desnecessária.
Entre Muros e Segredos Antigos
Castle of Blackwater não apresenta um enredo linear tradicional. Sua narrativa emerge organicamente a cada partida, tecida pelas interações, decepções e revelações dos jogadores. Cada sessão cria sua própria saga de confiança e traição dentro dos muros do castelo.
O cerne da intriga está nas três facções distintas que habitam o castelo, cada uma com seus objetivos e estilos de jogo.
Protetores: formam a maioria e buscam sobreviver, completando tarefas para preencher a barra de XP da equipe. Ao atingir 100%, todos os Protetores vencem.
Satânicos: minoria oculta que se reconhece e se comunica secretamente. Eles buscam eliminar os Protetores antes que completem as tarefas, fingindo colaborar para despistar.
Esquecidos: facção caótica e imprevisível, agindo como “coringas” com objetivos individualistas. Recentemente consolidados como “true solo roles”, impedidos de coludir facilmente com outras facções, elevando o desafio.
Essa dinâmica multifacetada vai além do modelo binário clássico, exigindo dos jogadores análise constante de múltiplas agendas ocultas, criando um metagame mais complexo e imprevisível. O castelo em si é um personagem, amplificando a sensação de perigo e mistério, e tornando cada sombra potencialmente fatal.
Como curiosidade, existe um castelo real chamado Blackwater Castle na Irlanda, com uma história rica que adiciona uma camada de misticismo ao nome, embora não esteja ligado diretamente à narrativa do jogo.
A Dança da Decepção e da Sobrevivência
O jogo se desenvolve em ciclos viciantes de tarefas, suspeitas e acusações, divididos em fases:
Fase de Tarefas: Protetores realizam mini-jogos para preencher a barra de XP, enquanto Satânicos fingem colaborar ou procuram oportunidades para eliminar outros jogadores.
Fase de Discussão: correm as acusações, enquanto a verdade e a mentira se confundem. O aumento do tempo para discussões e defesas aprofunda as estratégias.
Fase de Votação: jogadores decidem quem será exilado, com o log mostrando quem votou em quem, promovendo transparência e novas táticas.
Fase de Eliminação: o jogador com mais votos é removido, ou não, em caso de empate.
O chat de voz e texto por proximidade é o pilar central da experiência, permitindo desde gritos desesperados até conspirações sussurradas, elevando a imersão e autenticidade.
Uma das mecânicas mais interessantes é a possibilidade de influenciar o jogo após a morte. Fantasmas coletam almas e compram power-ups, mantendo os jogadores engajados e evitando a frustração comum do desengajamento.
Engrenagens da Traição e da Estratégia
A profundidade estratégica está nas mais de 10 habilidades únicas dos personagens, que moldam a experiência de jogo e exigem diferentes táticas.
Protetores: habilidades que ajudam a completar tarefas, proteger aliados e investigar suspeitos.
Satânicos: poderes de manipulação, silêncio e sabotagem.
Esquecidos: papéis solo com objetivos próprios, aumentando o caos e a imprevisibilidade.
A dinâmica da Safe Zone, com custo crescente em almas para permanecer, equilibra segurança e risco, incentivando a exploração do castelo.
Os constantes rebalanceamentos mostram o comprometimento da equipe de desenvolvimento, que mantém o jogo vivo e estratégico.
O Charme Sombrio do Castelo
O estilo 2D “hand-drawn” combina desenhos animados com um toque sombrio, criando um charme peculiar que suaviza a tensão sem perder o mistério.
Melhorias recentes na iluminação dinâmica e no mapa aumentam a imersão e o fluxo.
Com mais de 200 itens cosméticos, o jogo oferece muita personalização e diversão social.
O sistema de áudio, com chat por proximidade e sons que aumentam a tensão, é fundamental para a experiência.
Uma crítica fica para a narração do tutorial, gerada por IA, que pode quebrar a imersão para alguns.
A Busca por Jogadores e Problemas Técnicos
Um ponto negativo que merece destaque é a dificuldade em encontrar partidas e jogadores para jogar, o que pode impactar negativamente a experiência, especialmente para quem quer jogar em grupo ou com amigos.
Além disso, o bug recorrente de desconexão do host afeta a fluidez das partidas, exigindo atenção prioritária dos desenvolvedores.
NFTs, Blockchain e Transparência
Uma questão delicada envolve a associação do jogo com NFTs e modelos blockchain, revelada após investigações e que gerou insatisfação na comunidade.
A presença de um modo “Ranked” que exige NFTs, além de uma economia de tokens ($COBE, $COBS), não foi divulgada claramente desde o início, causando perda de confiança.
Embora exista um modo “Casual” sem essas exigências, a sombra do modelo cripto afeta a reputação e pode afastar jogadores tradicionais.
Um Castelo de Promessas… e Sombras
Castle of Blackwater é um jogo de dedução social bem construído e inovador, com mecânicas sólidas, comunicação imersiva e uma comunidade ativa. No entanto, desafios técnicos, dificuldade de matchmaking e controvérsias sobre blockchain e NFTs lançam dúvidas sobre seu futuro.
Se você gosta de jogos de estratégia social e aceita a experimentação com blockchain, o castelo oferece uma aventura instigante. Por outro lado, para quem rejeita o modelo cripto ou busca uma experiência mais estável e transparente, é importante pesar os prós e contras antes de entrar.
No fim, o jogo reflete a própria natureza da confiança e traição: tanto na jogabilidade quanto na relação entre desenvolvedores e comunidade, a verdade é a força que definirá seu destino.
NOTA
CONSIDERAÇÕES
Castle of Blackwater entrega uma experiência criativa e envolvente de dedução social, com ótimas ideias e mecânicas bem pensadas. No entanto, sua base de jogadores limitada, problemas técnicos e a controvérsia envolvendo NFTs tornam difícil recomendá-lo sem ressalvas. É um castelo promissor — mas ainda cercado por sombras.