Entre pixels e memórias, Copycat não é só mais uma narrativa, é quase uma carta que você recebe sem esperar, escrita com tinta de rejeição e dobra de abandono. Desde os primeiros minutos, ele não se preocupa em te impressionar com grandiosidade; ele prefere te olhar nos olhos e falar baixo, como quem compartilha um segredo que pode mudar o jeito que você vê o mundo. E foi assim que me prendeu, não pela pressa, mas pela intimidade.
É um jogo que não tem medo de expor fragilidade, e justamente por isso, se torna tão forte. Ao longo da jornada, ele cutuca feridas que talvez você tenha escondido de si mesma. Ele fala de pertencimento, da alegria breve de encontrar um lar e da dor imensa de perdê-lo. Não é um jogo para todos os dias. É um jogo para dias em que você está pronta para sentir, de verdade.
História
A trama de Copycat se desdobra pelos olhos de Dawn, uma gatinha que, mesmo recém-saída do abrigo, carrega no peito uma cicatriz invisível: o medo de não pertencer. Inicialmente, ela é adotada por Olive, uma senhora solitária, fragilizada pela idade e ainda imersa na dor pela perda de sua antiga companheira felina. Num gesto de esperança ou talvez nostalgia, Olive batiza a nova moradora com o mesmo nome da que partiu, como se pudesse refazer o passado com o simples sopro de um nome.
Porém, o que parecia ser um novo começo logo se torna um adeus silencioso: surge outra gata, de aparência idêntica, uma impostora. Sem alarde, essa intrusa ocupa o lugar de Dawn no coração de Olive, forçando nossa protagonista a enfrentar o abandono novamente. Expulsa desse lar frágil, Dawn é lançada numa jornada de retorno ao que foi tirado dela, mas nem sempre o que se perde volta da mesma forma.
A narrativa é contada como um documentário de natureza, com um narrador que traz uma voz quase científica ao emocional, uma espécie de “biólogo narrador”, que atribui um olhar observador e sensível aos passos felinos de Dawn.
Em sua curta jornada, o jogo dura cerca de três horas, mas são suficientes para deixar uma marca profunda, a história mergulha em temas como amor, rejeição, identidade e o verdadeiro significado de “lar”. Não busca reviravoltas espetaculares, mas deposita sua força no silencio daqueles afetos que mais tememos perder.
Gameplay
A experiência de jogar Copycat é quase um sonho guiado, com uma camada tangível de vida felina e emoção. Durante essas três horas, você caminha como um gato, com controle ágil e leve, mas sem pressa. Salta em telhados, se esconde em caixas, mia para o vazio e faz travessuras. Em seus melhores momentos, a jogabilidade permite que você sinta o peso de cada pulo, o eco de cada suspiro enquanto Dawn busca um caminho de volta para casa.
Mas não é só isso. Há minigames e momentos “quick-time event” que pontuam o ritmo com sutileza, às vezes revelando o quão frágeis são os fios que ligam os laços emocionais. Não se trata apenas de movimento, trata-se de sentir cada expressão felina, cada hesitação, cada miado insatisfeito.
O design dos cenários não é um pano de fundo qualquer; é um mapa emocional. Quintais ensolarados convidam ao aconchego, enquanto becos escuros, cercas estreitas e ruas vazias espelham o deslocamento de Dawn. Cada ambiente tem alma, e cada salto lembra que a segurança pode ser frágil.
A narratividade não se entrega ao óbvio. O jogo questiona: e se Dawn nunca tiver sido a impostora? E se aquela que a substituiu for, de certa forma, parte do mesmo espelho quebrado? Essas reflexões surgem sem forçar, apenas sussurradas entre cada passo felino e cada cenário.
Mecânicas
As mecânicas são simples, mas eficientes. Elas não tentam se destacar mais do que a história; pelo contrário, se moldam a ela. Movimentação suave, interação direta e menus discretos garantem que nada tire a sua atenção do que realmente importa.
O ponto mais forte aqui é a integração entre mecânica e emoção. Não há ações desnecessárias, cada movimento e escolha têm um significado narrativo. Até a ausência de algo, como a impossibilidade de mudar um destino, é uma mecânica em si.
Visual e Áudio
O visual de Copycat é uma pintura em movimento. As paletas de cores não são gritantes; elas carregam melancolia, mas também momentos de luz suave. É como ver o mundo através de um filtro de memória, onde tudo é bonito, mas um pouco distante.
A trilha sonora é minimalista e cirúrgica: ela aparece apenas quando precisa, e quando aparece, é para amplificar o que já está em você. Muitas vezes, é o silêncio que fala. E é esse silêncio que me fez sentir como se o jogo estivesse escutando, não só contando.
Desempenho
No meu setup — RTX 4060, placa-mãe B550M, 32 GB de RAM e Ryzen 7 5700 — o jogo não rodou de forma tão suave quanto eu esperava. Não foi injogável, mas percebi quedas de desempenho e alguns engasgos visuais, sem contar a tela de carregamento demorada. Isso quebra um pouco a imersão, especialmente em uma experiência que depende tanto de atmosfera.
Não sei se é uma questão de otimização geral ou algo específico com a minha configuração, mas fica o alerta: o impacto emocional é enorme, mas pode ser interrompido por esses pequenos tropeços técnicos.
Conclusão
Copycat; é um espelho emocional. Ele não tem medo de falar sobre abandono, rejeição e perda, mas também não deixa de mostrar a beleza de encontrar um lar, mesmo que por pouco tempo. É um lembrete doloroso de que nada é garantido, e que até os lares mais acolhedores podem se desfazer.
Eu saí dele mais leve e mais pesada ao mesmo tempo. Leve, porque me senti compreendida. Pesada, porque algumas feridas voltaram a doer. Não é um jogo para “passar o tempo”; é para quem quer sentir, refletir e, talvez, chorar um pouco. Mesmo com problemas de desempenho, é uma experiência que vou carregar comigo, como um verso que insiste em ecoar.
NOTA
CONSIDERAÇÕES
Copycat é daqueles jogos que não se esquece. Ele entende que o que mais dói não é perder algo, mas sentir que nunca foi realmente seu. É poesia em forma de jogo, com a delicadeza e a crueldade que a vida às vezes tem. Mesmo com tropeços técnicos, é uma obra que se guarda no peito, como uma cicatriz bonita. E, no fundo, é sobre isso: aprender a viver com as marcas que o amor e a perda deixam.