Há dias em que o mundo se abre para ti como uma flor sinistra, e há jogos que prometem esse desabrochar e entregam espinhos. Dark Atlas: Infernum foi esse “dois-em-um” para mim: ao mesmo tempo promessa de abismo e de catarse, e… uma decepção que ecoa mais do que assusta. Eu entrei naquela escuridão com o coração batendo, saí com ele mais lento, exausto, querendo fechar os olhos.
HISTÓRIA
Em Dark Atlas: Infernum, eu acordo como Natalia Asensio, trancada num porão que cheira a pó velho e silêncio podre, sem lembrar nem meu próprio nome direito. A cabeça gira, as memórias escorrem pelos dedos, e tudo o que resta é a sensação de que eu já fui alguém importante… e perigosa.

Lá fora, o mundo está se desfazendo como papel molhado: tempestades que rasgam o céu, brechas entre dimensões e essas criaturas estranhas, os Imprints, sombras de gente morta que só existem pra lembrar que algo deu errado demais.
Enquanto caminho, vou descobrindo que eu não era só uma pessoa qualquer. Eu era Grã-Mestre de uma ordem esotérica, envolvida com rituais que nunca deveriam ter sido tocados. E no centro de tudo isso, tem o tal Corona Radiata, um artefato proibido, meio livro, meio maldição, que parece pulsar junto com a queda do mundo.

A história toda é essa batalha entre lembrar e não querer lembrar. Cada fragmento do meu passado mostra que talvez o apocalipse não tenha começado longe de mim… talvez tenha começado por minha causa.
GAMEPLAY
Andei por corredores famintos de luz, escutei meu próprio passo ecoar demais. O stealth, a escuridão, a vulnerabilidade, aspectos que eu adoro quando bem feitos, aqui se tornaram pesos desiguais. Encontros repetitivos com inimigos que patrulhavam os mesmos corredores, sem variação ou consequência interessante. E quando me capturavam… volta ao checkpoint. Volta. E volta. O design de “esconder ou morrer” funcionou pior que o esperado: em vez de tensão, gera irritação. Jogar era menos sobreviver e mais… “esperar o erro”.

MECÂNICAS
A ambição de simplicidade era nobre: inventário limpo, puzzles simbólicos, sem mãos segurando demais. Mas a execução falhou. Sem mapa, sem guia, ótimo em teoria, na prática, resultava em salas que eu revisitava até o tédio, procurando “aquele item” que eu perdi ou nem vi surgir. A escuridão não era atmosférica, era funcional demais para esconder a falta de clareza. E as decisões sutis prometidas? Eu mal percebi impacto real. Sentia que o jogo me empurrava por um labirinto por hábito e não por escolha.
VISUAL E ÁUDIO
Há momentos belos, luz vacilando, sombras alongadas, o sussurro de vozes antigas. Mas beleza não é suficiente quando o feio é rotina. Em muitos trechos, o visual me pareceu pouco inspirado: corredores repetidos, ambientações genéricas, luz tão fraca que se tornou frustração. A ausência de opção para ajustar brilho, sim, acontece, tirou qualquer parâmetro de conforto. E o áudio? Os sussurros vinham, mas o impacto era reduzido por vozes mal dubladas, interpretações que queriam drama e soavam “ok”. O terror que gruda na pele falhou em se firmar.
DESEMPENHO
Tecnicamente, não era um desastre completo, o jogo rodou. Mas ainda assim, nas minhas configurações, Ryzen 7 5700, 32GB RAM, RTX 4060, B550M, conseguiu ser mal otimizado, com travamentos sem sentido, além de bug de carregamento de tela. Checkpoints mal posicionados, progressão friccionada, sensação de “voltar para casa” várias vezes quando a casa deveria estar em chamas. A imersão, que depende de continuidade, foi quebrada por esses tropeços repetidos.
CONCLUSÃO
Eu esperava acordar de um pesadelo, acabei nem sonhando direito. Dark Atlas: Infernum tinha em si o potencial de algo especial: a escuridão, a intimidade, a vulnerabilidade. Mas escolheu entrar por atalhos, deixou promessas no ar, seguiu por corredores que levavam de volta ao mesmo ponto.
Se tu ama horror de verdade, aquele que te mastiga por dentro, talvez ainda aches algo de valor nele. Mas sendo honesta: há tantos outros jogos que fazem isso com mais cuidado, mais alma e menos frustração.

A história tem um pulso, mas o resto… ficou preso no limbo das “boas intenções”.
Se eu fosse te dar um conselho tipo “espera por uma promoção ou demo”, este seria. Mas se tu tens tempo e mente para algo que te segure firme, acho que este jogo não merece o teu foco agora.
NOTA
CONSIDERAÇÕES
Dark Atlas: Infernum me prometeu um mergulho no abismo, mas entregou só sombras rasas e um silêncio mal costurado. A história até tenta me puxar, mas se perde em passos repetidos e sustos que não respiram. É um daqueles jogos que parecem profundos… até tu realmente entrar neles.
