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Review | EA SPORTS FC 26 (PS5)

Chegou aquele momento do ano. O momento de dissecar a mais recente encarnação do maior e mais controverso simulador de futebol do planeta. Mas desta vez, o holofote está direcionado. EA SPORTS FC 26 chega a múltiplas plataformas, mas é na versão de PlayStation 5 que a promessa de uma nova geração ecoa mais alto, e é nela que focamos esta análise. Com o poder do controle DualSense, o áudio 3D e um hardware que não precisa mais se prender ao passado, a expectativa não é apenas por um jogo melhor, mas por uma experiência fundamentalmente mais imersiva e responsiva. Nesta análise, vamos mergulhar fundo em cada aspecto desta proposta ambiciosa. Vamos desconstruir a jogabilidade, explorar as narrativas prometidas, sentir o impacto das tecnologias do PS5 e, por fim, confrontar a questão que assombra veteranos há anos. A pergunta que define o sucesso ou o fracasso de FC 26 não é se ele é bonito ou polido, mas se a EA finalmente usou todo esse poder para exorcizar o fantasma na máquina , aquela sensação persistente de que o jogo, e não o jogador, decide o destino da bola. É hora de descobrir se a tecnologia nos entregou o jogo que sempre sonhamos, ou apenas a versão mais espetacular de uma velha frustração.

Mais do que Onze em Campo

Sempre defendi que a alma de um jogo de esporte não vive apenas nos 90 minutos da partida, mas na história que construímos em torno dela. Por anos, fomos nós, os jogadores, que criamos as narrativas mais épicas em nossas cabeças, transformando um simples Modo Carreira em uma saga de redenção, traição e glória que o jogo em si jamais conseguiu articular. A EA, aparentemente, ouviu esses clamores e prometeu, com FC 26, entregar as ferramentas para que essas histórias florescessem dentro do próprio jogo, e não apenas em fóruns na internet.

EA SPORTS FC 26

A grande aposta é o modo “Manager ao Vivo”, uma tentativa de conectar nossa simulação particular ao pulsar do futebol real. Embarquei na ideia com um misto de cinismo e curiosidade. Assumi um clube da parte de baixo da tabela da Premier League em pleno janeiro, num desafio que espelhava a crise real da equipe. A janela de transferências era um campo minado, o moral do elenco estava no chão e a imprensa digital já pedia minha cabeça. A premissa é fantástica. Por alguns momentos, senti a pressão. A necessidade de encontrar um zagueiro barato e confiável, de gerir o ego de um atacante que não marcava há meses. Mas a ilusão logo se desfez. Os desafios, embora contextuais, se revelaram pouco mais que uma lista de tarefas glorificada, com recompensas que pareciam saídas de um passe de temporada de um jogo mobile – um uniforme retrô aqui, um item cosmético para o estádio ali. A tensão era superficial, e a narrativa, em vez de emergir organicamente das minhas decisões, parecia empurrada por objetivos pré-definidos.

Essa mudança de filosofia é sutil, mas perigosa. Ao introduzir um sistema de recompensas externas, como um Passe de Temporada, dentro de um modo que sempre foi uma caixa de areia pessoal, a EA altera fundamentalmente nossa motivação. O objetivo deixa de ser a glória intrínseca de levar um time pequeno ao título europeu e passa a ser o cumprimento de metas semanais para destravar um item. É o primeiro passo para transformar o santuário do jogador solo em mais uma engrenagem no ecossistema de engajamento constante, e eu me pergunto quanto tempo levará até que microtransações para “acelerar o desenvolvimento de jovens” apareçam neste modo.

EA SPORTS FC 26

Na Carreira de Atleta, a promessa de “Arquétipos” e “Histórias de Origem” também soava como música. Criei meu jogador, um ponta veloz saído de uma comunidade carente, em oposição a um meia clássico formado numa academia europeia de elite. A ideia era que essa origem moldasse a jornada. E, de fato, as cenas iniciais e os comentários da imprensa refletiam essa base. Mas, em campo, e nas interações com o técnico e colegas, a experiência rapidamente se homogeneizou. A origem virou uma skin, uma camada de tinta sobre a mesma estrutura de treinos repetitivos e objetivos genéricos. O jogo falha em capturar o peso das decisões, o sacrifício familiar, a pressão psicológica que define a carreira de um atleta de verdade. Ele nos dá a ilusão de uma história, mas se esquece de nos dar uma alma para habitá-la. E, no fim, a pergunta volta: de que adianta escolher o diálogo certo para motivar a equipe antes de uma final, se, ao entrar em campo, sinto que o fantasma na máquina já decidiu o roteiro da partida?

A Dança dos Pixels

Vamos ao que interessa: a bola rolando. É aqui, no gramado virtual, que FC 26 precisava provar seu valor. E, por alguns momentos gloriosos, ele consegue. Há uma nova cadência no jogo, um ritmo ligeiramente mais lento e deliberado que, pela primeira vez em anos, parece recompensar a construção de jogadas. Tocar a bola no meio-campo, inverter o jogo, esperar o momento certo para o passe em profundidade; essas ações, antes engolidas pela velocidade supersônica dos pontas, agora têm espaço para respirar. Senti uma satisfação tática que não sentia há muito tempo ao quebrar uma linha de defesa com paciência, em vez de apenas explorar uma falha na inteligência artificial.

Mas a velha assombração não demora a aparecer. A inteligência artificial, embora aprimorada na construção ofensiva, ainda sofre dos mesmos pecados capitais na defesa. Testemunhei, de novo e de novo, o momento que gela a espinha de qualquer jogador veterano: meu zagueiro, perfeitamente posicionado, simplesmente decide parar de correr por uma fração de segundo, como se uma parede invisível surgisse à sua frente, abrindo um corredor para o atacante adversário marcar um gol indefensável. É inexplicável, é frustrante e é a assinatura do “scripting”. É o código gritando que precisava de um gol naquele momento, e a sua agência como jogador é apenas um detalhe inconveniente.

EA SPORTS FC 26

Essa sensação permeia toda a experiência. Há partidas em que meus jogadores, craques de renome mundial, subitamente desenvolvem o toque de bola de um jogador de fim de semana. Passes simples de dois metros vão parar na lateral. Chutes na cara do gol saem mascados, fracos, como se a chuteira fosse feita de espuma. Em contrapartida, o adversário, seja a máquina ou um oponente online com um time visivelmente inferior, transforma-se numa força da natureza. Goleiros viram muralhas intransponíveis, defensores antecipam todas as jogadas e atacantes marcam gols de ângulos impossíveis.

Não tenho como provar que existe um código malicioso escrito para manipular resultados. Mas a questão não é essa. A questão é que o jogo parece manipulado. O problema fundamental de FC 26, assim como de seus antecessores, é a sua falta de transparência. Em outros jogos complexos, quando falhamos, entendemos o porquê. Uma barra de estamina que se esgotou, um status negativo, uma rolagem de dados que falhou. Em FC 26, a falha é um mistério. Meu jogador errou o passe porque sua estatística de “compostura” estava baixa? Porque a pressão do adversário o afetou? Ou porque o jogo decidiu que era hora de eu sofrer um gol? Como não há feedback claro, a mente humana preenche a lacuna com a explicação mais plausível: o sistema está trapaceando. E quando a confiança no sistema se quebra, a magia do esporte morre.

O Teatro dos Sonhos Digitais

Visualmente, FC 26 é um espetáculo inegável. A EA promoveu uma repaginação de seu motor Frostbite, prometendo um foco mais “humano”, e o resultado é visível, principalmente na iluminação. Aquele brilho genérico e plastificado que banhava todos os estádios deu lugar a um sistema muito mais matizado. A luz dourada de um fim de tarde em La Bombonera, os refletores cortando a névoa em uma noite fria na Alemanha, a sombra dinâmica que avança sobre o campo, tudo contribui para uma atmosfera que é, ao mesmo tempo, realista e cinematográfica. É a concretização da ideia de que o objetivo não é mais o fotorrealismo, mas um hiper-realismo, uma versão idealizada do esporte que é mais bonita e dramática do que a própria transmissão de TV.

Os modelos dos jogadores são assustadoramente precisos, mas é na animação que o salto é mais perceptível. A tecnologia HyperMotion parece ter atingido um novo patamar de maturidade. Os movimentos são mais fluidos, as transições entre uma corrida e um drible são mais orgânicas e as disputas de corpo a corpo têm um peso e uma fisicalidade que antes não existiam. Ver um jogador se esticar para um carrinho de último segundo ou ajeitar o corpo para um voleio de primeira é pura poesia em movimento.

EA SPORTS FC 26

O áudio, impulsionado pela tecnologia Tempest 3D do PS5, é a cereja no bolo. Com um bom fone de ouvido, a experiência é transformadora. Você não apenas ouve a torcida, você está dentro dela. O som dos cânticos vem de setores específicos do estádio, o grito de um companheiro pedindo a bola vem da sua esquerda, o eco da bola no fundo da rede parece ressoar dentro da sua cabeça. É uma camada de informação e imersão que, quando funciona, eleva a experiência a um novo patamar. O som deixa de ser um pano de fundo e se torna parte ativa do jogo, aumentando a consciência espacial e a sensação de se estar realmente em campo.

A Promessa Inabalável

Com a versão de PS5 servindo de vitrine para a nova geração, a expectativa de polimento técnico era absoluta. E, na maior parte do tempo, ele entrega. O jogo roda a uma resolução 4K com uma taxa de 60 quadros por segundo sólida como uma rocha, sem quedas ou engasgos, mesmo nos momentos mais caóticos da partida. Os tempos de carregamento, graças ao SSD do PS5, são praticamente inexistentes. Ir do menu principal para o apito inicial leva meros segundos, e a navegação pelos menus, um antigo pesadelo da franquia, está finalmente ágil e responsiva.

No entanto, a herança maldita do código da série ainda se faz presente. Mesmo com uma nova fundação, alguns dos velhos e conhecidos bugs insistem em aparecer. Vi jogadores atravessando uns aos outros, a bola ocasionalmente desafiando as leis da física e a interface apresentando pequenos problemas. Não é nada que quebre o jogo, mas são pequenas rachaduras na fachada de um produto que deveria ser impecável.

A estabilidade online, felizmente, parece ter recebido a atenção devida. As partidas nos modos online correram com uma conexão estável e com um atraso de comando (input lag) visivelmente reduzido em comparação com os anos anteriores. É um passo crucial na direção certa para a porção competitiva do jogo. A decisão de otimizar para a arquitetura do PS5 parece ter permitido à EA aprimorar a fundação técnica do jogo, pagando parte da enorme “dívida técnica” acumulada ao longo de anos. O resultado é o jogo mais estável e polido da franquia em muito tempo, o que torna as falhas de gameplay ainda mais frustrantes.

O Apito Final e o Eco da Memória

Ao final de dezenas de horas com FC 26, volto à minha pergunta inicial. O fantasma na máquina foi exorcizado? A resposta, dolorosamente, é não. Ele continua aqui. Ele está mais bem vestido do que nunca, vivendo em um mundo digital de beleza estonteante, com uma trilha sonora imersiva e um controle que vibra com a alma do esporte. Mas ele ainda está aqui, nos momentos em que o controle é arrancado de nossas mãos, nos gols que parecem predestinados, na desconfiança que corrói a base de qualquer competição justa.

O momento que ficará gravado na minha memória não foi um gol de placa ou a conquista de um título. Foi o silêncio após uma derrota por 4 a 3 em uma final de copa. Eu estive na frente por 3 a 0. Joguei a partida da minha vida. E então, nos últimos 20 minutos de jogo, meu time se desintegrou. Passes errados, defensores estáticos, um goleiro que parecia ter manteiga nas luvas. Eu não perdi para um adversário melhor. Eu perdi para um roteiro. E nesse silêncio, não havia raiva, apenas um cansaço profundo. O cansaço de participar do mesmo ritual anual, de alimentar a mesma esperança, apenas para ser lembrado de que, nesta máquina, a história mais importante nem sempre é a que você escreve.

EA SPORTS FC 26 é um paradoxo. É o melhor e mais imersivo jogo de futebol já feito em seus aspectos técnicos e de apresentação. É uma vitrine do que o hardware de nova geração pode fazer. Mas, ao mesmo tempo, é assombrado pelos mesmos problemas fundamentais de design e filosofia que o prendem ao passado. É um jogo para quem já é devoto, para quem já aprendeu a conviver com o fantasma e a apreciar os momentos de brilho apesar dele. Mas para o jogador que busca a redenção, para aquele que sonha com uma simulação pura e justa, a busca continua.

Talvez a perfeição seja inatingível. Talvez seja impossível engarrafar a aleatoriedade, a paixão e a beleza caótica do futebol em linhas de código. E talvez este nosso ritual anual não seja sobre encontrar o jogo perfeito, mas sobre a própria esperança. A esperança de que, no próximo ano, talvez, apenas talvez, seja diferente. É uma esperança que, como o próprio futebol, nunca morre. Mesmo quando deveria.

NOTA

8.0
★★★★★★★★★★

CONSIDERAÇÕES

FC 26 é um espetáculo técnico. Graficamente impressionante e com o melhor uso do controle DualSense em um jogo de esporte, a imersão sensorial é inegável. Contudo, a beleza exterior não corrige os defeitos internos: a jogabilidade ainda sofre com a frustrante sensação de "scripting" e uma IA inconsistente que quebram a ilusão de uma competição justa. É uma experiência tecnicamente brilhante, mas fundamentalmente falha em sua alma.

Gustavo Feltes
Gustavo Feltes
Eu amo jogar, jogar é uma parte de mim. Cada história, momento, universo e gameplay me encantam. Eu não tenho restrições de jogos, cada célula do meu corpo clama por isso.
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