Review | Enshrouded (PC)

Sempre que vejo um novo jogo de sobrevivência chegando ao mercado, confesso que meu coração bate mais forte. Sou apaixonado por esse gênero e, quando ele vem acompanhado de elementos de RPG, aí é praticamente impossível eu não mergulhar de cabeça. Foi exatamente assim que me senti quando comecei minha jornada em Enshrouded. De início, não esperava tanto, afinal, jogos de sobrevivência são muitos e nem todos conseguem se destacar. Para minha surpresa, Enshrouded acabou sendo uma das maiores revelações que tive neste ano. É um título que mistura exploração, combate e criatividade de uma forma que conseguiu me prender por horas a fio.

Uma Trama Que Fica em Segundo Plano

A narrativa de Enshrouded se passa em Embervale, um mundo de fantasia devastado por uma misteriosa névoa chamada Mortalha, que corrói tudo o que toca e transforma seres vivos em criaturas corrompidas violentas. Nesse cenário caótico, eu assumo o papel de um Flameborn, resultado de antigos experimentos que buscavam salvar esse reino condenado.

Embora o pano de fundo seja interessante e traga elementos que eu pessoalmente adoro, como magia, ruínas antigas e civilizações perdidas, não posso negar que a história é o ponto mais fraco do jogo. Ela existe e está lá para dar contexto ao mundo e às missões, mas muitas vezes parece apenas um fio condutor para justificar a exploração e o combate. Para quem gosta de narrativas densas e cheias de reviravoltas, talvez Enshrouded decepcione um pouco. Eu acabei aceitando que aqui a estrela não é a trama, mas sim as experiências que eu mesmo construo dentro desse universo.

Onde Enshrouded Brilha

Se a história não me conquistou tanto, o gameplay fez exatamente o oposto. É nele que Enshrouded mostra sua força e oferece uma variedade impressionante de opções. O sistema de combate é um dos pontos altos. Posso enfrentar inimigos corpo a corpo com espada e escudo, me arriscar como arqueiro à distância ou até mesmo usar magias. O mais legal é como cada estilo de jogo tem peso e impacto. Fazer um parry bem-timado ou usar o lampejo, uma espécie de teleporte rápido em curtas distâncias, dá uma sensação de fluidez incrível.

No início, minha ideia era jogar como mago, já que sempre priorizo builds de magia em RPGs. Mas a forma como Enshrouded trata esse estilo me deixou um pouco decepcionado. A varinha funciona como um ataque básico infinito, enquanto o cajado permite conjurar feitiços mais poderosos, como meteoros, bolas de fogo e curas, só que com um custo de mana alto demais. Mesmo com itens e poções para otimizar a mana, senti que o dano das magias não compensava em lutas longas. Resultado: larguei o cajado e, para minha própria surpresa, descobri que ser um guerreiro de espada e escudo poderia ser ainda mais divertido. E foi amor à primeira vista.

Criatividade Sem Limites

Se tem algo que me fez perder a noção do tempo em Enshrouded, foram as mecânicas de exploração e construção. A sensação de liberdade é absurda. Não apenas posso coletar recursos e erguer minha própria base, como também sou incentivado a dar personalidade a ela. Construir casas específicas para NPCs que encontrei pelo mundo, como o ferreiro ou a fazendeira, virou um dos meus passatempos favoritos.

O jogo também me deixou impressionado com o sistema de terreno dinâmico. Posso literalmente cavar e criar cavernas, o que abriu espaço para uma infinidade de ideias malucas. Eu me senti quase como uma criança brincando de Lego, só que dentro de um RPG sombrio.

Outro detalhe que eu adorei foi a introdução do planador. Voar pelos céus de Embervale, controlando a stamina para não despencar no meio do nada, o que aconteceu várias vezes comigo e gerou boas risadas, virou um vício. Existem três tipos de planadores, cada um melhor que o outro, e eles transformam a exploração em algo leve e empolgante.

E como se não bastasse, ainda temos o crafting, que é extremamente robusto: armas, armaduras, poções, fazendas, animais, até mesmo vilas completas. Cada vez que eu descobria uma nova possibilidade, era como se o jogo me desse um motivo a mais para continuar.

Um Mundo Que Respira Fantasia

Visualmente, Enshrouded é um espetáculo. Os cenários são vivos, cheios de detalhes e transmitiram pra mim uma imersão absurda. A vegetação, os céus, a iluminação, tudo parece pensado para criar uma atmosfera única. Um dos momentos mais bonitos que tive foi quando me aproximei da Mortalha e vi os raios de sol atravessando a névoa. Foi simplesmente mágico.

A trilha sonora também merece elogios. As músicas não são invasivas, mas sabem aparecer nos momentos certos, reforçando a tensão ou a sensação de grandiosidade. O design de som, no geral, é muito competente, desde o impacto das armas até os ruídos sutis da floresta. Tudo isso faz com que a imersão seja ainda mais intensa.

Um detalhe que eu adorei foi o sistema de customização de personagens. Embora não seja nada revolucionário, funciona bem. Pude criar meu avatar, brincar com armaduras e, o melhor de tudo, usar itens como “skins” apenas pelo visual, sem impactar nos status. Isso me deu a liberdade de ter o estilo que eu queria, algo que valorizo muito em RPGs.

Entre o Brilho e as Quedas

Eu joguei Enshrouded no PC, com um Ryzen 5 3600, uma RTX 4060 e 32 GB de RAM em dual channel a 3600 MHz. A experiência foi boa, mas não perfeita. Em áreas abertas e menos povoadas, meu FPS ficava entre 60 e 80 em 1080p no máximo. Porém, em locais com muitos NPCs ou cenários carregados de objetos, as quedas eram bruscas, chegando a 30 ou 40 FPS. Isso me fez acreditar que o gargalo estava no processador.

Além disso, encontrei alguns bugs visuais, nada que quebrasse a gameplay, mas o suficiente para me tirar da imersão por alguns segundos. A boa notícia é que, na maioria das vezes, um simples reinício resolvia o problema. Fora isso, o jogo se manteve estável e não tive crashes ou travamentos graves.

Uma Jóia Imperfeita Que Brilha

Depois de tantas horas mergulhado em Embervale, posso dizer sem medo que Enshrouded é uma das maiores surpresas do ano para mim. Ele não é perfeito, a história deixa a desejar, o sistema de magias podia ser mais refinado e o desempenho ainda precisa de otimizações, mas a soma das suas qualidades supera, e muito, as falhas.

O combate é viciante, a exploração é gratificante e a construção é quase infinita em possibilidades. Some a isso um mundo visualmente incrível e uma trilha sonora envolvente, e temos aqui um jogo que me fez esquecer do tempo em várias sessões.

Enshrouded me mostrou que não é preciso ter a narrativa mais complexa para criar uma experiência memorável. Basta oferecer liberdade, desafio e espaço para que o jogador construa sua própria história. E foi exatamente isso que eu vivi: uma aventura única, pessoal e inesquecível.

Se você gosta de RPGs, de sobrevivência ou simplesmente de jogos que deixam a criatividade fluir, prepare-se. A Mortalha pode até tentar engolir tudo, mas dificilmente vai apagar a chama que Enshrouded acendeu em mim.