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Review | Lies of P: Overture (PC)

Minha jornada no universo de Lies of P começou em 2023, e o título rapidamente se firmou como uma das adições mais impressionantes ao gênero Soulslike na última década. Sua reinterpretação sombria da fábula de Pinóquio, ambientada em uma atmosfera gótica vitoriana, me chamou muita atenção desde o primeiro momento.

Minha antecipação para a primeira expansão, Overture, era com muito hype, pois é uma nova aventura para o game. Fui surpreendido pela Neowiz com um shadow drop durante o Summer Game Fest 2025, lançando o DLC em 6 de junho. Essa estratégia audaciosa me pegou de surpresa e, na minha opinião, validou a confiança da desenvolvedora na qualidade do produto. A decisão de lançar de forma inesperada, sem um longo ciclo de marketing para construir o hype, sugeriu que a Neowiz e a Round8 Studio estavam certas de que Overture se destacaria por si só, capitalizando na base de fãs existente e na atenção espontânea gerada pela surpresa.

Overture não se apresenta como uma continuação direta, mas sim como um mergulho profundo no passado de Krat, funcionando como um “prólogo” sombrio que me transportou para os dias que antecedem a devastadora Frenesi das Marionetes. Ao optar por uma prequela, percebi um compromisso com a expansão orgânica da narrativa. Essa abordagem permite a exploração das origens da Frenesi, o estado da cidade antes da devastação e o passado de personagens cruciais, sem a necessidade de criar linhas temporais complexas ou revisões. É uma maneira inteligente de aprofundar a história e o universo, tornando a experiência do jogo base ainda mais rica em uma segunda jogada, pois adquiro um novo contexto para os eventos e cenários já conhecidos. Controlando o boneco de Geppetto, fui convidado a desvendar segredos e histórias não contadas, adicionando camadas de contexto ao universo já estabelecido. Essa “viagem no tempo” é uma das maiores novidades, permitindo ver Krat em um estado que eu só imaginava antes. Para iniciar essa jornada, é necessário ter completado o Capítulo 9 do jogo base e recebido o item-chave Star’s Chrysalis.

Ecos de um Passado Sombrio

Minha imersão na história de Overture foi imediata e visceral. O DLC me transportou para uma Krat à beira do colapso, dias antes da Frenesi das Marionetes — um período que o jogo base apenas aludia. A narrativa é notavelmente mais direta e acessível do que a maioria dos títulos Soulslike, o que considero um ponto forte, pois evita obscuridade desnecessária sem sacrificar o mistério. Ainda assim, a expansão me ofereceu uma vasta quantidade de notas e registros de áudio para desvendar, enriquecendo a lore para quem busca aprofundamento.

Lies of P Overture

O DLC se destacou ao expandir personagens que eram apenas mencionados de passagem no jogo base, adicionando uma camada totalmente nova de contexto à história original. Conheci Lea, uma Stalker misteriosa cuja jornada é o cerne da narrativa. Sua conexão com P (e, claro também, Carlo) é profundamente emocional, e sua história de perda e desejo de reencontro atua como motor da progressão no DLC, culminando em um desejo final que ressoa profundamente. A revelação de que P está vivenciando as memórias de Lea, conectadas ao Ergo de Carlo, elevou a narrativa para um aprofundamento filosófico sobre memória, desejo e a natureza da alma, tornando a história do jogo base mais pungente e significativa em futuras jogadas. Essa mecânica de “viagem no tempo” através das memórias de Lea, impulsionada pelo Ergo de Carlo e guiada pela Star’s Chrysalis, é uma das inovações mais fascinantes do DLC, permitindo testemunhar eventos cruciais antes da Frenesi das Marionetes.

Além de Lea, encontrei Rosaura, uma pequena marionete com uma busca comovente por seus sapatos perdidos no Carnival Gardens, e Goddard, a Pintora Cega, uma ex-Alquimista com uma visão artística peculiar. Completar suas linhas de missão não só ofereceu recompensas úteis, mas também aprofundou minha compreensão da sociedade de Krat e dos dilemas morais que permeiam o mundo. Essas interações foram um exemplo primoroso de como a Neowiz humaniza (ou “marionetiza”) seu universo. A abordagem narrativa, mais focada em personagens e com exposição intensa — como em God of War — foi um refresco no gênero para mim, demonstrando uma evolução no design narrativo de Soulslikes. A Neowiz e a Round8 Studio, na minha opinião, criaram uma história muito interessante e compreensível para um público mais amplo, sem alienar os fãs que apreciam a descoberta de lore oculta.

A Dança Mortal Continua

O combate em Overture representou um dos pontos altos da experiência, mantendo a excelência do jogo base e elevando-a com uma sensação de confiança e polimento. Não há mecânicas revolucionárias introduzidas, mas sim um refinamento do que já era excepcional. A dança mortal de parrys e esquivas continua sendo o coração da experiência, e cada golpe, cada defesa perfeita, proporcionou uma satisfação imensa.

Lies of P Overture

A expansão me apresentou dezenas de novos inimigos com padrões de ataque verdadeiramente selvagens, garantindo que o desafio permanecesse fresco e imprevisível. Enfrentei desde macacos infectados e monstros híbridos de elefante-hipopótamo-cavalo até tubarões raivosos, marinheiros frenéticos, cães zumbis e marionetes com temas de carnaval. A variedade impressiona, e cada novo encontro exigiu adaptação. A densidade de conteúdo e a diversidade de desafios foram notáveis; percebi que a Neowiz e a Round8 Studio não apenas adicionaram “mais do mesmo,” mas se esforçaram para expandir significativamente o escopo do jogo, refrescando a experiência de combate. A diversidade de inimigos e chefes, cada um exigindo diferentes estratégias, demonstra um design sofisticado que evita repetição e mantém o engajamento.

Os chefes de Overture são um espetáculo à parte, e, na minha opinião, estão entre os melhores do subgênero. A lista robusta e desafiadora inclui: o Predador Tirano (um crocodilo mutante), Markiona (uma marionetista com sua boneca letal), Veronique (parte ovelha, parte berserker), o Supervisor de Duas Faces (uma boneca mecânica com mudanças de fase), o Caçador Verde Pré-metamórfico (opcional e assustador), o Guardião Angustiado das Ruínas (uma quimera massiva), Lumacchio (seguidor de Simon Manus com uma segunda fase grotesca) e, finalmente, Arlecchino, o Artista do Sangue. Arlecchino, em particular, foi um dos desafios mais formidáveis de Lies of P, uma luta que me manteve na ponta dos pés até o último segundo, com a ajuda de Lea no segundo ato. O design dos chefes é um pilar fundamental dos Soulslikes, e Overture, na minha experiência, eleva o padrão. A diversidade das mecânicas (fases, summons, fraquezas elementais) me forçou a dominar o sistema de combate em sua totalidade. O fato de o chefe final ser um dos mais difíceis do jogo garantiu um clímax satisfatório e um teste definitivo para minhas habilidades.

Para complementar meu arsenal, Overture adicionou 10 novas armas, que explorei com entusiasmo. Entre elas, o Arco de Chifre Real se destacou pelo excelente dano à distância e capacidade de causar stagger em inimigos menores, além de sua Fable Art, que ajudava a criar distância. O Lorenzini Bolt e as Garras da Morte (rápidas e com baixo consumo de stamina) também foram bastante interessante, esta última com ataques que aumentam ainda mais a velocidade. A Espada Rosa de Monad, recompensa poderosa do chefe final, tornou-se uma das minhas favoritas, com ataques à distância de grande dano e capacidade de stagger em inimigos grandes, ideal para builds de balanço e New Game+. Outras armas que encontrei e experimentei incluem o Silent Evangelists’ Mace, Maniac’s Pinwheel, Pale Knight, Puppet of the Future’s Welder Blade and Handle e La Vendetta Head and Handle. Duas novas Legion Arms também foram introduzidas: uma que dispara serras giratórias e outra que lança projéteis de espingarda, adicionando ainda mais versatilidade às builds. Embora nenhuma tenha revolucionado minha abordagem ao combate, a Legion Arm de serras giratórias foi útil para manter dano constante quando não conseguia atacar diretamente. Além disso, encontrei 23 novos amuletos, como o Winter Sleep, crucial para proteção contra congelamento nas novas áreas, e muitos deles eram versões aprimoradas de amuletos existentes ou totalmente novos, o que ampliou as opções para otimização. Embora relatos indiquem que o DLC é mais curto (cerca de 8 horas), minha exploração.

Refinamentos e Novas Cordas

Overture não busca reinventar a roda, e essa escolha é um elogio. A Neowiz e a Round8 Studio optaram por refinar tudo que vimos no jogo base, mas com uma nova sensação de confiança e polimento. As mecânicas de combate, parry, esquiva e o sistema de criação de armas continuam sendo o ponto forte, e a expansão as aprimora sutilmente, sem descaracterizar a experiência central. Em um mercado saturado por jogos que tentam inovar a todo custo, a decisão de refinar e polir o que já funciona é, para mim, um sinal de maturidade e foco. Isso demonstra que os desenvolvedores compreendem seus pontos fortes e investem em aprimorar a experiência central de Lies of P.

Lies of P Overture

Uma das adições mais significativas e bem-vindas foi o “Battle Memories mode,” que me permitiu revisitar e enfrentar todos os chefes do jogo (incluindo os do DLC) em cinco níveis de dificuldade diferentes. Essa funcionalidade é um prato cheio para quem busca desafios extras e quer aprimorar suas habilidades contra os inimigos mais formidáveis de Krat, adicionando valor de replay imenso.

A decisão mais notável, e que gerou discussões na comunidade, foi a introdução de novas opções de dificuldade: “Butterfly’s Guidance” (Muito Fácil), “Awakened Puppet” (Normal) e “Legendary Stalker” (Padrão/Difícil, a dificuldade original).

Sobre o sistema P-Organ, não notei novas fases de upgrades, mas o DLC permitiu melhorar ligeiramente certos bônus de Ataque, Sobrevivência, Habilidade e Item por meio da coleta de Quartz. Ou seja, embora não haja novas categorias, foi possível aprofundar as existentes, otimizando a build. As novas armas e Legion Arms também contribuíram significativamente para a variedade de builds e estratégias, enriquecendo as mecânicas.

A Beleza Macabra de Krat

A experiência visual e auditiva em Overture foi, como esperado, espetacular. Os ambientes são deslumbrantes e criativos, e o design de níveis é primoroso. A direção de arte continua sendo um dos pilares do jogo, transportando para uma Krat que, mesmo à beira da ruína, exibe uma beleza gótica rica em detalhes que convidam à admiração.

Lies of P Overture

Os novos ambientes foram um destaque. O Krat Zoo, por exemplo, é um cenário macabro e fascinante, mas o Carnival Gardens é onde a direção de arte realmente brilhou. Retratado como operacional — com luzes acesas, brinquedos funcionando e até um balão do mestre do desfile flutuando —, esse contraste gritante com os ambientes dilapidados do jogo base é uma forma engenhosa de situar o jogador na linha do tempo da prequela, mostrando a cidade antes da devastação total. As marionetes também aparecem em estado mais fresco, com nova pintura, roupas limpas e animações de ataque mais suaves, reforçando a distinção temporal. Essa técnica visual e sonora adiciona melancolia, pois mostra Krat em seu auge antes da queda, tornando a tragédia do jogo base ainda mais impactante.

Lies of P Overture

A trilha sonora e o design de áudio são imaculados e impressionantes. A música festiva do Carnival Gardens é um contraponto perturbador à atmosfera sombria, e os efeitos sonoros — do ranger das marionetes aos impactos dos golpes — continuam cruciais para a imersão.

Para entusiastas da moda em Soulslikes, o DLC adicionou 15 novos trajes e acessórios, oferecendo mais opções para personalizar P. Alguns são homenagens claras e bem-vindas aos icônicos visuais de Bloodborne, permitindo um toque ainda mais sombrio e familiar para fãs do gênero. O fan service, quando bem executado, como esses trajes, é mais que um aceno: é um reconhecimento das raízes do jogo e um presente para a comunidade. A expansão da trilha sonora reforça o compromisso com a atmosfera sonora rica e variada, essencial para a imersão em um jogo de terror gótico.

O Coração da Máquina

Minha análise técnica do desempenho em Lies of P: Overture para PC revelou uma experiência geralmente robusta, mas com nuances importantes. Com minha configuração (Ryzen 5 3600, RTX 4060, 32 GB RAM dual channel a 3200 MHz), o jogo rodou muito suave, com média de 100 FPS em 1080p nativo, sem DLSS, na predefinição máxima. Esse resultado é excelente e esperado para hardware de gama média, que entrega fluidez fundamental para um Soulslike. Com desempenho estável, pude focar nas mecânicas e não em problemas técnicos.

Krat em Seu Momento Mais Cru e Brilhante

Overture arranca o véu e expõe a Krat em sua forma mais crua, sombria e desesperada. Cada canto da cidade pulsa com uma tensão aterrorizante, cada luta é um teste brutal que exige precisão e sangue frio. Controlar P nesse cenário é caminhar na corda bamba entre o passado e a ruína, onde segredos enterrados se tornam armas afiadas.

A narrativa cortante e os personagens complexos elevam a trama a um nível que poucos Soulslikes alcançam. Não há espaço para distrações — apenas a imersão total em um universo onde a esperança é um fio quase rompido, mas ainda resistente. As batalhas contra chefes monstruosos, a variedade tática das armas e o design visual afiado como lâmina transformam o DLC em uma experiência que prende o jogador do começo ao fim.

Neowiz e Round8 Studio entregaram uma expansão que não apenas expande o mundo, mas o aprofunda com coragem e precisão cirúrgica. Lies of P: Overture é um golpe certeiro na mesa, reafirmando que Krat é um universo onde cada sombra conta uma história, e cada história é uma luta pela sobrevivência — violenta, intensa e inesquecível.

NOTA

9.5
★★★★★★★★★★

CONSIDERAÇÕES

Lies of P: Overture destrói expectativas e redefine o que uma expansão pode ser. É um mergulho implacável no caos e na dor de Krat, onde cada batalha é um grito de sobrevivência e cada sombra esconde segredos que queimam a alma. Esta expansão não só amplia o universo — ela o transforma, firmando Lies of P como referência inabalável no gênero Soulslike.

Gustavo Feltes
Gustavo Feltes
Eu amo jogar, jogar é uma parte de mim. Cada história, momento, universo e gameplay me encantam. Eu não tenho restrições de jogos, cada célula do meu corpo clama por isso.
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