HomeReviewsReview | Sonic Racing: CrossWorlds (PS5)

Review | Sonic Racing: CrossWorlds (PS5)

Existe um ritual quase sagrado ao iniciar um novo jogo de corrida do Sonic. Não é como pegar qualquer outro game; é mais como reencontrar um velho amigo de infância. Você o observa, analisa como o tempo o tratou, e torce para que aquela centelha de magia, aquela anarquia colorida que definiu tardes inteiras na frente da TV, ainda esteja lá. Eu carrego comigo a memória vívida de Sonic & All-Stars Racing Transformed, um pináculo de criatividade e fan service que, para mim, estabeleceu o padrão ouro para o gênero fora do reino do bigode. Foi um jogo que, ao abraçar o legado da Sega, pareceu um passo definitivo na direção certa.

Agora, em minhas mãos, tenho Sonic Racing: CrossWorlds, a mais nova e, sem dúvida, mais audaciosa aposta da Sega. Desde o primeiro anúncio, ele se apresentou não apenas como um jogo, mas como uma declaração de intenções. Uma celebração multiversal, saltando entre dimensões, projetada para ser a culminação de tudo que veio antes. É a resposta direta da Sonic Team ao feedback dos fãs, uma tentativa consciente de fundir o que funcionou, corrigir o que não deu certo e, no processo, olhar nos olhos do monarca reinante, Mario Kart, e soltar um sorriso desafiador.

Sonic Racing CrossWorlds

Para mim, portanto, este não é apenas mais um título na pilha de análises. É um teste pessoal. Um teste para ver se a Sega ainda possui aquele toque de Midas do caos arcade, aquela capacidade de criar algo que é, ao mesmo tempo, acessível e profundo. A questão que paira no ar, enquanto a música tema explode nos meus fones, é se CrossWorlds consegue ser a grande síntese de sua linhagem, o amálgama perfeito entre a variedade de seu passado e a ambição de seu futuro, ou se é apenas uma colagem brilhante e veloz de ideias que já vimos antes.

Uma Desculpa Para Acelerar

Vamos tirar isso do caminho logo de cara: Sonic Racing: CrossWorlds não tem um modo história. E, honestamente, graças aos céus por isso. Em vez de nos prender a uma campanha narrativa com diálogos que poderiam facilmente variar entre o constrangedor e o simplesmente “atroz”, a Sonic Team tomou a decisão de abandonar completamente uma trama formal. Isso não parece preguiça, mas sim um ato de misericórdia e, mais importante, de foco.

Sonic Racing CrossWorlds

A única forma de caracterização vem em pequenas doses de adrenalina. O sistema de “Rivais”, que designa um oponente específico para você superar em cada Grand Prix, e as provocações trocadas durante a corrida, são o suficiente. Ouvir Shadow resmungar um “What?!” de frustração ao ser ultrapassado por mim, jogando de Sonic, cria uma pequena vinheta narrativa que é mais eficaz e divertida do que qualquer diálogo expositivo jamais seria. É uma história contada em rajadas de alta velocidade, o que, convenhamos, é o único jeito que uma história do Sonic deveria ser.

O Balé do Drift e do Caos

No momento em que seus dedos se ajustam ao controle, algo familiar acontece. Acelerar, entrar na curva, segurar o botão de drift e sentir o motor gritar enquanto o medidor de turbo sobe de um, para dois, para três níveis de potência… é uma dança. Um balé mecânico de risco e recompensa que é a alma de Sonic Racing: CrossWorlds. A sensação é sublime, uma resposta muscular que ecoa décadas de jogos de corrida arcade. É nostálgico e, como diz a gíria, “funciona muito bem”. As habilidades, os itens, tudo se encaixa em um ritmo que é ao mesmo tempo caótico e estranhamente metódico.

O jogo, no entanto, joga um jogo interessante com sua percepção de velocidade. Nas primeiras categorias, tudo pode parecer um pouco lento, quase contido. É um período de aprendizado, onde você se familiariza com as pistas e o timing do drift. Mas então você desbloqueia a classe “Super Sonic Speed”, e o mundo vira um borrão. O salto de dificuldade e velocidade é “incrivelmente pronunciado”. Curvas que antes eram tranquilas se tornam desafios mortais que exigem precisão milimétrica. É aqui que o jogo revela sua verdadeira natureza: ele te ensina a andar para depois te jogar de um penhasco e exigir que você voe.

Sonic Racing CrossWorlds

Essa estrutura de ritmo é genial. O que começa como um jogo de festa acessível lentamente se transforma em um teste de habilidade hardcore. E o arsenal de itens complementa essa filosofia. São 23 tipos diferentes de power-ups, desde os clássicos mísseis teleguiados até novidades como o Monster Truck, que te dá invencibilidade temporária. A frequência com que eles aparecem é implacável, garantindo que ninguém fique muito tempo na liderança e que cada corrida seja uma batalha imprevisível até a última curva. É o equilíbrio perfeito entre a habilidade pura de um piloto e a sorte caótica de um cassino.

Atravessando Mundos em Três Marchas

O grande trunfo de CrossWorlds é a forma como ele abraça e expande as melhores ideias de seu passado. A primeira e mais celebrada é o retorno triunfal das transformações de veículos, uma mecânica herdada diretamente do amado Sonic & All-Stars Racing Transformed. Em um piscar de olhos, seu carro pode se tornar um barco ágil ou um avião veloz. Correr em terra firme, seja com um kart tradicional ou com as pranchas flutuantes Extreme Gear (que exigem mais habilidade, uma piscadela para os fãs de Sonic Riders), é a experiência base, polida e responsiva. A transição para a água introduz uma nova física; os barcos podem parecer um pouco mais “pesados” ou “planos” no início, exigindo um ritmo diferente para dominar as ondas e usar os saltos para pegar atalhos. Mas é no ar que o jogo atinge seu ápice de espetáculo. As seções de avião abrem as pistas em um espaço tridimensional, oferecendo uma liberdade de movimento que é simplesmente de tirar o fôlego.

Sonic Racing CrossWorlds

A segunda mecânica, que dá nome ao jogo, é o sistema “CrossWorlds”. Após a primeira volta, o líder da corrida se depara com dois portais, os “Travel Rings”. A escolha dele transporta todos os 12 competidores para uma pista completamente diferente, uma das 15 localidades “CrossWorld”, para uma segunda volta caótica e imprevisível, antes de retornarem à pista original para uma terceira e última volta, agora alterada e cheia de novos perigos e atalhos. É uma ideia brilhante, executada com perfeição. Ela garante que nenhuma corrida seja igual à outra, injetando uma dose de aleatoriedade curada que mantém você na ponta do assento.

É aqui, no entanto, que preciso abordar uma sensação que me acompanhou durante as corridas, algo que um amigo também comentou e que me marcou: a física do impacto. Em CrossWorlds, bater em uma parede não resulta em uma parada brusca ou uma rodada humilhante. Em vez disso, você meio que “derrapa” pela superfície antes de voltar à pista. Eu entendo a lógica por trás disso. É uma decisão de design que prioriza o fluxo da corrida, evitando que um único erro arruíne sua chance de vitória e mantendo a ação constante. Mas, ao fazer isso, o jogo sacrifica o peso, o impacto visceral de uma colisão. Aquele momento de pânico e a consequência real de um erro de cálculo são diluídos. A imersão é quebrada por essa sensação de que seu veículo é um fantasma deslizando por uma parede, em vez de um motor roncando que deveria se despedaçar. É uma troca consciente entre punição e diversão, e embora eu entenda a escolha, não posso deixar de sentir que um pouco mais de brutalidade tornaria as vitórias ainda mais doces.

Uma Sinfonia de Blast Processing

Visualmente, Sonic Racing: CrossWorlds é uma overdose de açúcar. As cores explodem na tela, as pistas são grandiosas e arrojadas, e tudo pulsa com a energia inconfundível de um fliperama da Sega nos anos 90. É um banquete para os olhos… na maior parte do tempo. Porque, ao olhar mais de perto, você começa a notar as arestas. Para um jogo de PlayStation 5, lançado no quinto ano de vida do console, algumas texturas e detalhes de cenário parecem surpreendentemente “ásperos” ou datados.

Sonic Racing CrossWorlds

A experiência sonora segue a mesma lógica de montanha-russa. A trilha sonora é um mixtape nostálgico que atinge picos de genialidade absoluta. Ouvir um remix moderno de uma música clássica de Sonic Adventure 2 ou Jet Set Radio enquanto você corre é nostalgia pura, injetada diretamente na veia. No entanto, a seleção geral é “descontroladamente irregular”. Algumas das novas faixas pop são cativantes, enquanto outras são tão genéricas ou estridentes que chegam a incomodar. Felizmente, o design de som geral é impecável. O rugido dos motores, o som satisfatório de um item acertando o alvo e o narrador empolgado criam a atmosfera de fliperama perfeita.

60 Frames de Nostalgia no PS5

Falando especificamente da versão de PlayStation 5, a notícia mais importante é a melhor possível: o jogo oferece um modo desempenho que crava sólidos 60 quadros por segundo. Para um jogo de corrida onde a velocidade e o tempo de reação são tudo, isso não é um luxo, é uma necessidade. A fluidez é constante, mesmo nos momentos mais caóticos com 12 pilotos e uma chuva de efeitos especiais na tela. Existe um modo gráfico que prioriza a resolução 4K em detrimento da performance, travando a 30 fps, mas, sinceramente, não consigo imaginar por que alguém escolheria essa opção em um gênero que vive e morre pela fluidez.

Quanto à imersão tátil, o controle DualSense oferece suporte à função de vibração, mas a implementação é básica. Não espere sentir a textura de cada terreno ou o coice de um turbo através de feedback háptico detalhado; é mais um rumble padrão do que uma experiência sensorial transformadora. Onde o hardware do PS5 realmente brilha é nos tempos de carregamento. Eles são praticamente instantâneos, o que mantém o ritmo acelerado do jogo e te joga de volta na ação sem um pingo de atrito.

A Linha de Chegada é Apenas o Começo

Ao cruzar a linha de chegada pela enésima vez, uma certeza se instala. Sonic Racing: CrossWorlds não é um jogo de corrida perfeito. Sua física de colisão pode parecer leve demais e sua trilha sonora é uma salada de frutas sônica.

E, no entanto, é impossível separar essas falhas de seus triunfos. O jogo é, em sua essência, um reflexo perfeito de seu protagonista: incrivelmente rápido, transbordando de atitude e estilo, um pouco áspero nas bordas, mas fundamentalmente e inabalavelmente comprometido com a diversão pura e sem adulteração. É a “Grande Síntese” que a Sega vinha buscando. Ele consegue o feito notável de equilibrar as necessidades de novatos casuais com a fome de desafio de veteranos, transformando-se sutilmente de um passeio no parque em uma prova de fogo.

Sonic Racing: CrossWorlds triunfa porque, mais do que qualquer outro jogo da série, ele entende sua própria identidade. Ele não está tentando ser um simulador. Ele não está nem mesmo tentando ser Mario Kart. Ele é, com orgulho, barulho e um caos glorioso, ele mesmo. É um jogo que nos lembra que a verdadeira alegria de uma corrida nem sempre está na execução impecável de uma volta perfeita, mas na bagunça linda, imprevisível e interdimensional que você cria no caminho. A linha de chegada não é um fim; é um convite para apertar o start e mergulhar de cabeça no caos mais uma vez.

NOTA

9.0
★★★★★★★★★★

CONSIDERAÇÕES

Sonic Racing: CrossWorlds é um sucesso. Apesar de pequenas falhas, sua jogabilidade veloz e caótica, junto com mecânicas criativas como as transformações de veículos, entregam uma experiência de corrida única, nostálgica e cheia de adrenalina.

Gustavo Feltes
Gustavo Feltes
Eu amo jogar, jogar é uma parte de mim. Cada história, momento, universo e gameplay me encantam. Eu não tenho restrições de jogos, cada célula do meu corpo clama por isso.
ARTIGOS RELACIONADOS

Deixe uma resposta

Por favor, coloque seu comentario!
Por favor coloque seu nome aqui

Mais Populares

COMENTARIOS RECENTES

Sonic Racing: CrossWorlds é um sucesso. Apesar de pequenas falhas, sua jogabilidade veloz e caótica, junto com mecânicas criativas como as transformações de veículos, entregam uma experiência de corrida única, nostálgica e cheia de adrenalina.Review | Sonic Racing: CrossWorlds (PS5)